Opinião

PT nutella contra PT raiz? Intervenção, resistência e judicialização

Política judicializada. Vejam só: foi exatamente o judiciário que, provocado, decidiu em favor do PT de João Pessoa nesta terça-feira (20).

O juiz Fábio Leandro de Alencar, da 64 Zona Eleitoral, suspendeu a intervenção decretada pela presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, no diretório municipal do partido. Ele entendeu que o ato foi “ilegal e abusivo”. Com isso, anulou a autoridade do interventor que já trabalhava para garantir apoio a Ricardo Coutinho (PSB).

A decisão do juiz beneficia Anísio Maia, candidato à prefeitura da capital pelo PT, mas não zera o jogo e traz consequências. Impedida de usar o PT aqui para perpetrar seu projeto de eleger Ricardo, Gleisi reagiu atirando no Cidadania, mais precisamente em João Azevedo, e resolveu romper com o governo da Paraíba. Essa vem do campo das teorias da conspiração. Segundo a dirigente nacional petista, a candidatura de Anísio Maia é fictícia. Ele estaria a serviço de Azevedo para desarticular a esquerda local. A ideia se sustenta na presença de Luiz Couto no governo. Ele é secretário da Agricultura Familiar e do Desenvolvimento do Semiárido da Paraíba. Como alguém poderia servir a dois senhores? Luiz Couto não se pronunciou.

Mas a desconfiança de Anísio causa estranheza. Na Assembleia Legislativa, embora tenha chegado à titularidade graças a uma articulação do deputado Genival Matias (governo para beneficiar aliados, Anísio adotou postura autônoma, muitas vezes contrárias aos interesses do Executivo. Gostem dele ou não, acreditem ou não nessa independência, uma coisa há de se reconhecer: o petista não só ajudou a fundar o PT na década de 80, como militou a vida inteira em defesa de movimentos sociais e das minorias. Trabalhou e ajudou na formação dos capitais político e eleitoral do partido. Ser taxado de traidor a essa altura do campeonato não parece algo à altura de um partido do tamanho do PT. É desproporcional. No frigir dos ovos, a conduta de Gleisi – considerada arbitrária por muitos militantes petistas – traz mais prejuízos que ganhos aos envolvidos.

A decisão do juiz em favor de Anísio Maia e da autonomia do diretório municipal, fortalece a política partidária local e abre precedentes para que ditaduras internas sejam derrubadas também em outras legendas. Há, obviamente, quem critique a judicialização do caso e o levante do PT de João Pessoa. No entanto, esse caso isolado resgata e reforça a ideia de que o partido é um movimento que não tem dono, apesar de Gleisi Hoffmann.

E por falar em Gleisi…

Há mais perguntas que carecem de respostas. Primeira: se a ideia da presidente nacional do PT é unir a esquerda, se ela usa pesquisas eleitorais para justificar o desmonte da candidatura de Anísio Maia em João Pessoa, por que não fazer o mesmo em outras capitais como Natal e Salvador (isso, só para citar o Nordeste)?

Segunda questão (e essa me parece central para o debate): por que o desejo de unir a esquerda não se aplicou, por exemplo, a Belford Roxo (RJ)? Lá, Gleisi Hoffmann defendeu aliança com a direita e fechou com Wagner Carneiro (MDB), aliado de Jair Bolsonaro.

Há ainda um terceiro elemento que precisa ser considerado. Se coligar com o PSB seria a fórmula da unidade da esquerda na capital paraibana, por que nenhum outro partido do campo progressista fechou com Ricardo Coutinho?

Os argumentos usados por Gleisi não convenceram nem a militância petista em João Pessoa, nem o juiz eleitoral Fábio Leandro Alencar. De quebra, geraram uma reação adversa. Quando resolveu romper com o governo da Paraíba, ela cavou a sepultura do interventor no PT. Cícero Gregório de Lacerda Legal foi exonerado do cargo de assessor da Secretaria de Agricultura Familiar.

É aquela história: ela atirou no que viu, acertou o que não viu. E, nesse caso, saiu de mãos vazias.