Opinião

O crescimento do Progressitas e as chances de Aguinaldo para presidente da Câmara Federal

O Progressitas está bombando. Foi o segundo partido que mais cresceu no Brasil nas eleições 2020 em comparação com 2016. Saiu de 495 prefeituras para 685, um ganho de 38%. Desempenho repetido na Paraíba. Tinha 6 prefeituras há 4 anos, agora tem 22. São consideráveis 336%. Terá sido um crescimento orgânico, sustentável?

Importa saber: a projeção do Progressistas no xadrez político/eleitoral o colocou no centro de duas outras disputas: as presidências das casas legislativas que formam o Congresso Nacional. Na Câmara Federal o atual presidente, Rodrigo Maia (DEM), impedido de ser reeleito pelo Supremo Tribunal Federal, indicou o paraibano Aguinaldo Ribeiro. No Senado, o também democrata Davi Alcolumbre, na mesma condição do Maia, indicou Daniella Ribeiro. Será o paraíso astral da legenda e dos Ribeiro?

Há questões postas que pedem o entendimento do conjunto e não de partes isoladas ou em capítulos de uma história. Apesar do nome, o Progressistas não está situado dentro do campo ideológico progressista que encontra inspiração nos ideais iluministas de igualdade, liberdade e fraternidade. É confuso, eu sei. Antes PP, a mudança do nome é verniz que embota a interpretação dos desavisados. A legenda é da direita conservadora, filha da Arena e do PDS que apoiavam o regime militar. No espectro econômico, se coloca como liberal.

Integrante do Centrão, um aglomerado de agremiações sem compromisso programático, o Progressistas é um partido governista, fisiológico. Sem qualquer apego ideológico, transita pelo lado das conveniências. Foi aliado do PT nos governos Lula e Dilma, e também do governo Temer. Agora, é base do governo Bolsonaro e, como base do governo, cresceu com a onda direitista que ganhou tamanho em 2018 e que ainda se alimenta do antipetismo, da crise da fé na democracia, do cansaço, da raiva, do medo do eleitor.

O Progressistas cresceu com o Centrão que, por sua vez, cresceu com a crise dos partidos tradicionais e virou muleta que suporta o peso de um governo que não se sustenta nas próprias pernas, que não tem uma base orgânica, que não pode contar com apoio irrestrito das bancadas temáticas porque estas só estão para o que lhes interessa, sendo assim, facilmente se dissipam. A dependência do governo Bolsonaro do Centrão fermentou partidos como o Progressistas a um custo político muito alto.

Com poder de barganha, o PP negociou emendas, recursos e obras para Municípios. Essa moeda de troca facilitou o avanço do partido, a vitória de aliados e a conquista de prefeituras importantes como a capital paraibana. Resta saber se o PP elegeu Cícero Lucena ou se Cícero projetou a legenda por aqui. Há ainda um outro ponto: Cícero permanecerá no partido? O PP terá o mesmo peso sem ele? Já que estamos falando de organicidade, o problema é oportuno. O tempo dirá. Essas ponderações, contudo, não excluem a capacidade de articulação da legenda e do clã Ribeiro que rouba, agora, as atenções em Brasília.

Voltando às eleições para Câmara e Senado…

O cenário é imprevisível porque tanto Maia quanto Alcolumbre não pensaram em sucessores. Por motivos distintos, os nomes dos irmãos Ribeiro são cogitados.

Na Câmara dos deputados, Aguinaldo Ribeiro tem forte trânsito entre os mais diferentes segmentos da casa. Para conseguir votos da esquerda, tem lembrado aos pares que foi ministro das Cidades de Dilma Rousseff. O argumento não deve pesar já que o paraibano votou pelo impeachment da petista em 2016. O apoio do PSL ele já conseguiu, mas, em troca, terá que se filiar à sigla. Resta saber se MDB – que tem o competitivo Baleia Rossi (SP) como candidato –, PSDB, DEM, Cidadania e PV vão apostar no paraibano.

Já no Senado, Alcolumbre tem uma relação muito próxima com Daniella. Foi com o apoio dele que ela trouxe, em 2019, uma Superintendência da Caixa Econômica Federal para Campina Grande. Mas não basta só a indicação. A disputa exige trabalho e muita queima de energia em busca de aliados. Nesse aspecto, Eduardo Braga (MDB-AM) tem vantagem sobre ela. Não só ele.

Na Câmara, Maia tem proposto alguém que dê continuidade a um trabalho que ele afirma independente do Executivo. Trocando em miúdos: que não se rebaixe a Bolsonaro e prese pela autonomia da Casa. Em tese, isso excluiria Aguinaldo em virtude do alinhamento dele com governo federal. O candidato de Bolsonaro é Arthur Lira (AL), líder do Centrão, mas se o PP é Centrão, no frigir dos ovos, está tudo em casa. O crescimento de um favorece o outro.

As condições estão promissoras para o PP de todo modo, e não é mero golpe de sorte –diferentes variáveis, juntas, levaram a isso. Saber aproveitar o enfraquecimento da esquerda foi uma delas. Por hora, a possibilidade que tem a legenda de ocupar um espaço de relevância no Congresso está posta. Saberemos seu tamanho em breve. Se terá densidade para chegar em 2022 com musculatura hipertrofiada para se consolidar na Paraíba, por exemplo, aí é outra conversa. O posicionamento nessa disputa e o resultado dela vão ser decisivos.