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Tragédia em Pipa (RN) completa um mês. Na Paraíba, especialista alerta para desmoronamento da barreira do Cabo Branco

Há 1 mês uma tragédia tingia de luto um dos pontos turísticos mais badalados do Rio Grande do Norte. Hugo Pereira, Stela Souza, e o pequeno Sol, de 7  meses, filho do casal, morreram soterrados. Eles aproveitavam a sombra de uma falésia na praia de Pipa quando a barreira de quase dois metros despencou.

17 de dezembro: um mês da tragédia em Pipa/RN

Esses deslizamentos, afirmam especialistas, não são raros no Nordeste. Isso porque os paredões formados há milhões de anos sofrem diferentes tipos de danos. Sendo assim, o que aconteceu lá, poderia acontecer também aqui, no litoral paraibano. Francisco Sarmento, professor-doutor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), explica que “são falésias que possuem a mesma constituição geológica básica, formada por arenito e, portanto, nas condições em que se encontram, estão sujeitas às ações naturais e antrópicas, ou seja, ações propiciadas pelo homem. No caso das ações erosivas naturais, as principais que nós temos são a chuva, o vento e a própria energia oceânica que contribui para solapar essas falésias. Foi mais ou menos o que aconteceu na praia de Pipa”.

E quanto à falésia do Cabo Branco, conhecida internacionalmente por ser o extremo oriental das Américas? Intervenções no local têm sido feitas pela prefeitura de João Pessoa com o objetivo de impedir que o avanço do mar cave o sopé da barreira e ela desmorone. Sarmento faz críticas à obra de revitalização “em função dos prejuízos causados na praia adjacente do cabo branco”. Ele se refere às pedras que se soltaram de gabiões e se espalharam pela areia, mudando a paisagem natural. Mas o professor reconhece que o  enrocamenteo da falésia, que é justamente a implantação das pedras ao redor do paredão, podem evitar a queda do talude, ou seja, da parte superior: “eu diria que agora estaria [a barreira] relativamente protegida pra esse tipo de acidente em função das rochas que foram colocadas no sopé impedindo que o mar mande sua energia e desgaste a base”.

O professor alerta para o perigo de desmoronamentos e mortes pela instabilidade da falésia, mesmo depois do trabalho de drenagem feito pela prefeitura. Ele lembra que um pedaço considerável do asfalto na parte superior já cedeu e que, ainda assim, muita gente visita a área e se expõe aos riscos: “o problema do Cabo Branco está na parte superior da falésia porque hoje já temos desmoronamentos, temos uma área comprometida completamente. O asfalto já foi desgastado, erodido e tombou num acidente que, em termos de geologia, é semelhante ao que houve em Pipa, felizmente não houve nenhuma vítima”.

O trânsito na parte superior da barreira está interditado. Em 2014, já na gestão Luciano Cartaxo, por causa do avanço da erosão, a prefeitura bloqueou parcialmente o acesso. Em 2017,  a ladeira do Cabo Branco foi fechada para carros, motos e todos os veículos pesados. Ano passado, até o tráfego de bicicletas foi suspenso. Tudo para impedir o desgaste da falésia. A medida é importante, mas Sarmento diz que não basta. Para evitar acidentes que podem ser fatais é preciso interditar o acesso do público à área que apresenta grande instabilidade: “hoje o trânsito lá em cima da falésia é interditado, mas dezenas de pessoas se aglomeram todos os finais de semana naquela área e não há sequer um isolamento feito pela Defesa Civil. As pessoas ficam lá a tirar fotografia sem perceber muitas vezes o risco que correm por estarem sobre uma barreira em que, muitas vezes, abaixo do asfalto em que elas pisam, já não há mais suporte”.

O que diz a Defesa Civil?

Noé Estrela, coordenador da Defesa Civil de João Pessoa, diz que a área superior da barreira do Cabo Branco “já foi isolada várias vezes, mas as estacas de proteção e arames são retirados pela população parar tirar fotos no local”. Segundo ele, já foi solicitado à Secretaria do Meio Ambiente (SEMAM), “que tem mais facilidades de aquisição neste período, a compra de novas estacas para fazer a reposição ainda este ano.