Opinião

Quem vai ser o “poderoso chefão” da Câmara Federal?

Por Rejane Negreiros

Eleição é bicho danado. Envolve muita queima de energia, além de acusações e promessas que, muitas vezes, caem no vão do esquecimento. E apesar de as dinâmicas mudarem de acordo com as disputas, sejam estaduais/federal, municipais ou para presidências de Parlamentos, há traços que são compartilhados por todas elas: o corpo-a-corpo é um deles.

Abafado em certo ponto em 2020 pelo “post-a-post” que ganhou relevância em função da pandemia da Covid-19 e do grau de importância que a tecnologia amealhou no processo, o corpo-a-corpo volta ao lugar de destaque na eleição para presidência da Mesa diretora da Câmara Federal. Os principais candidatos Arthur Lira (PP-AL) e Baleia Rossi(MDB-SP) estão em viagem pelo país em busca de apoios: é hora de investir em ações que rendam capital eleitoral.

Ainda ontem (13), Arthur Lira esteve em João Pessoa. Antes passou pelo Recife/PE. Aqui se encontrou com o governador João Azevêdo e com uns poucos parlamentares da bancada federal que, inclusive, declararam apoio ao candidato. Caso de Hugo Motta (Republicanos), Wilson Santiago (PTB) e Wellington Roberto (PL). Este última justifica o apoio: “vamos somar para trazer benefício para o Parlamento em sintomia com outros Poderes para que haja equilíbrio”.

O que Wellington Roberto chama de equilíbrio não passa de subserviência para outros. Lira é o candidato de Jair Bolsonaro que enxerga na eleição do alagoano um campo de força capaz de protegê-lo de um possível impeachment. E Lira usa isso como argumento para minar a campanha do adversário. Segundo ele, Baleia fechou com a esquerda um acordo de abertura de um processo de impedimento do presidente. Não há fato que comprove essa tese, mas Lira usa a narrativa como fator de desgaste da imagem daquele que representa um ameaça.

Outro ponto frisado por Lira diz respeito à economia. Ele afirma que é o único com compromisso de manter a pauta de interesse do país, o que inclui aprovação de reformas e projetos do Executivo e, obviamente, alinhamento com o governo federal. É como se o adversário dele , ‘abençoado’ pelo atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), fosse da turma do contra, um “tranca-pauta” por mero capricho ideológico.

Curioso é que foi justamente Maia o condutor de reformas aprovadas pela Casa. A reforma da Previdência tem a assinatura dele. A aprovação do Auxílio Emergencial também. Fatos: há divergências escancaradas entre Maia e o ministro da Economia, Paulo Guedes, mas há também convergência explícita na agenda econômica. Ambos apoiam projetos neoliberais, portanto, há interesses que os liga. Atribuir a Maia, e consequentemente ao Baleia Rossi, algo diferente disso é discurso panfletário que só engana a quem quer ser enganado.

Faltam 15 dias para a eleição. Há um motivo para tamanho interesse do governo no assunto. Ter um aliado no cargo é de grande valia. É do presidente da Câmara dos Deputados o poder da agenda que pauta o país. Ele pode tocar ou barrar certos temas sem precisar do crivo do colégio de líderes. Não é qualquer poder.  Além disso, ainda há o poder ‘regimental’ que permite que o presidente dê espaços em postos-chave como relatorias, comissões especiais e permanentes para os seus aliados.

Não à toa Arthur Lira veio à Paraíba e já formata seu pelotão de apoio por aqui. Não à toa os demais deputados fazem as contas e apostas em um ou outro candidato.  Lira não conta com Aguinaldo Ribeiro (PP), Efraim Filho (DEM), Gervásio Maia (PSB) e Frei Anastácio (PT). Faltam se posicionar: Damião Feliciano (PDT), que esteve ontem no jantar com Lira, Julian Lemos (PSL) e os tucanos Pedro Cunha Lima, Edna Henrique e Ruy Carneiro.

Há muito em jogo. E se Lira não ganhar? Bolsonaro há de ter um plano B que passa, dizem nos bastidores, pela distribuição de cargos para o MDB. Isso poderia blindá-lo. Se a estratégia não bastar, isolar pode ser a solução: comprar o passe de parlamentares e forçar dissidências no DEM. De uma forma ou de outra, configura-se a velha prática do toma lá, dá cá. Funciona muito bem e faz parte das regras. A “sorte” está lançada.