Opinião

O Zé Maranhão que eu conheci – histórias que não foram ao ar

Em quase duas décadas de carreira entrevistei José Maranhão muitas vezes, como governador, como senador da República. Procurava tirar dele sempre o detalhe, algo que rendesse bons debates e muita repercussão. Experiente, ele sabia medir as palavras. Às vezes era duro; noutras, vago. Nem sempre eu conseguia o que queria. Zé Maranhão sabia ter jogo de cintura para fugir de assuntos que não lhe agradavam.

Sempre fui incisiva com ele sem abrir mão do respeito, e sempre tive muito respeito de volta. Também encontrei, muitas vezes, certa dose de leveza que me deixava muito à vontade. Quase sempre, pra quebrar o clima tenso da TV ou do Rádio, antes de qualquer entrevista mais espinhosa, eu brincava com Zé, virginiano como eu. Essa, aliás, era uma deixa valiosa para algumas conversas que renderam muitas gargalhadas. Compartilho aqui um outro lado de Zé.

Em 2009 fui à casa dele como repórter da TV Cabo Branco. Já naquela época eu cobria política. Estávamos no terraço em um cenário improvisado para uma entrevista e ele sentou meio longe de mim. Pedi que se aproximasse. Maranhão, comedido e com certo receio, trouxe a cadeira mais um pouco. Insisti, ele chegou mais perto mas não o suficiente. Então disse: governador, chegue mais que eu não mordo! Maranhão respondeu: “Ah, se mordesse”! Caímos todos na risada e a entrevista fluiu.

Na foto abaixo, anos mais tarde em um de nossos encontros na Band News FM Manaíra, relembrei a história. Riso imediato. O registro foi feito pela assessoria de imprensa de Zé.

Nas nossas conversas também havia espaço para depoimentos fortes com algumas pitadas de sarcasmos – por parte de Zé, claro. Certa vez questionei sobre uma suposta nova aliança com o também ex-governador Ricardo Coutinho (PSB). Os dois já tinham se unido pra derrotar Cássio Cunha Lima (PSDB). Ao pé do ouvido, Zé revelou: “quem conhece Ricardo, a ele não volta a se aliar”. Manteve a palavra.

Voltei a rever Zé um tempo depois, também na rádio. Chegou sério naquele dia, mas antes de entrar no ar, ouvindo uma reportagem nacional que citava o adversário político e ex-senador Cássio Cunha Lima, não perdeu tempo. Mão cobrindo a boca, se aproximou e disse baixinho: “claro que está em cima do muro. É tucano!”. Zé riu. Ficou inspirado e desarmado. Batemos um papo que se estendeu por três blocos do programa.

Houve muitas outras conversas entre nós depois disso. Cada experiência foi única e rica.  Ele foi um dos que me ensinaram que uma entrevista só rende quando o outro está disposto a falar e quando há respeito entre as partes. Tenho pra mim que conquistei o respeito de Zé.