Paraíba, Política

Um retrato do amor. Desembargadora conta detalhes de sua vida com o senador José Maranhão

Foram anos de uma história construída no amor e na dedicação mútua. Desde que o senador José Maranhão adoeceu de Covid-19, em novembro de 2020, a desembargadora Fátima Bezerra pedia preces para o marido e dividia suas orações nas redes sociais em uma corrente virtual que passou a ser compartilhada por muitos eleitores.

A morte de José Maranhão na segunda-feira passada (8) revelou a força de Fátima. Em áudio, ela agradeceu aos eleitores de Maranhão pela confiança naquele que, segundo ela, viveu para a Paraíba. Abraçou também os que, mesmo adversários políticos, desejaram o bem e a recuperação do velho ‘mestre de obras’.

E foi também pelas redes sociais que a viúva de Zé dividiu detalhes da intimidade do casal mas também da personalidade do homem público que, aos 87 anos, não escondia sua entrega à política. Por trás de uma foto, um mundo de sentimentos e, junto com o relato, o esforço para que a memória de Zé esteja sempre viva.

Segue o relato.

Por Fátima Maranhão

Eu estava com os cabelos escuros, para agradar meu noivo, que elogiava os negros cabelos da minha irmã Alexina.
Com relação ao sorriso, fazíamos parelha. Sempre sorrimos com o coração, porque é largo o sorriso dos que são transparentes.
Recebemos essa foto através do Instagram da minha filha, Alicinha, enviada por moradores de Itabaiana, que disseram tê-la colocado em um porta retrato na sala. Há quantos tempo essa imagem foi fotografada?! À época, meu pai, Deputado Estadual. Meu Amor, Deputado Federal. Eu, estudante do Curso de Especialização em Direito, a nível de pós-graduação, esforçando-me para estar sempre entre as primeiras alunas da turma. Aliás, assim foi também na faculdade e no concurso para a magistratura, quando fui aprovada na primeira colocação.
Com tal aprovação, enveredei por carreira diferente da que imaginava meu noivo, que via em mim a vocação de uma Assistente Social, tendo em vista o espírito fraterno e solidário que ele enxergava na minha pessoa, preocupada com as causas sociais. Mas, não o frustrei, porque, apesar de em profissão diversa, pude imprimir, no mister de juíza, essa veia humana que ele observava na minha personalidade.
Sempre gostei de ler, de estudar, de escrever. E desenvolvíamos grandes diálogos sobre obras da literatura clássica e regional, motivo pelo qual nos igualávamos nas idades e na cultura. Quando eu tocava no piano ‘Noturno’, de Chopin, ele lembrava sua história com George Sand. Assim, eu seduzia e me deixava seduzir, fazendo da ‘Sonata ao Luar’, de Beethoven, nosso mundo de fantasia.
Nosso amor nutria essa prazerosa troca de conhecimentos, refletida em ocasiões como naquelas em que eu ia estudar Direitos Humanos e Sociais e ele me dava aulas melhores do que a de respeitados doutrinadores, como Dalmo Dallari e Flósculo da Nóbrega. Travávamos verdadeiras batalhas jurídicas, durante as reflexões das minhas teses acadêmicas, o que me ajudava a crescer, cada vez mais, como amante das Ciências do Direito.
Ele não era de dizer que sentia orgulho de mim ou que admirava minha capacidade intelectual. Mas também nunca deixou de me falar: você nasceu para brilhar!
Eu retrucava: quem nasceu para brilhar foi você, Meu Amor. Olhando para o céu, avistamos milhares de estrelas, mas aqui ao meu lado é que está o piloto que, em voos noturnos, faz-me mergulhar na imensidão das luzes, que piscam na terra e no céu.
Adorávamos esses voos noturnos e eu, de espírito romântico e sentimental, dizia amar aquela sensação de liberdade e de sintonia com o infinito! Abrindo um leve sorriso no rosto, ele achava bonito meu entusiasmo e minhas fantasias.
Penso, Meu Amor, que os apaixonados nunca deveriam deixar de curtir um céu estrelado ou banhado pela lua, porque conosco foi assim: um cenário como esse consolidou o nosso bem querer.
Hoje nostálgica, estou com medo desta noite. Está sem estrelas… como suprir essa lacuna? Cerro meus olhos e lhe vejo no céu luminoso da minha mente, com seu puro e maravilhoso sorriso. Desculpa, neste instante não consigo sorrir, nem mesmo declamando o Soneto da Fidelidade. Mas hei de ter paz, não chorarei meu pranto, lembrar-me-ei de teu contentamento.
Amanhã ou depois, hei de te encontrar na mais brilhante estrela do céu.