Opinião

Eleições 2022: o tempo dos aliados é o tempo de João?

Um ano e seis meses. Esse é o tempo que falta para as eleições 2022. Até lá, muita água pra rolar debaixo da ponte. Mas por uma questão cultural e também de sobrevivência, especialmente depois da Cláusula de Desempenho que obriga partidos e políticos a redesenharem seus planos e alianças, o debate acaba sendo antecipado e, junto com ele, as especulações tomam conta do enredo. Principalmente no caso de políticos que não estão a frente da gestão.

Não falta quem projete possíveis composições para João Azevêdo na busca pela reeleição com base nas movimentações de agora. Também não faltam candidatos a vice dentro do arco de parceiros firmados em 2018 – a exemplo de Efraim Filho (DEM) – e fora dele. Já citaram o estadual Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa e do Avante, aliado de primeira hora do governo. Ser de Campina Grande seria fator decisivo para unificar o apoio à reeleição no Estado com base na representatividade dos dois maiores colégios eleitorais. Coisa de costumes.

Falaram ainda de outro campinense, o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (Progressistas). Conversas existem, não são de agora e, vale lembrar, renderam parceria até então pouco provável entre figuras de campos ideológicos distintos, um progressista e o outro neoliberal, em torno da candidatura do atual prefeito Cícero Lucena, filiado ao partido dos Ribeiro. Mas ali era outra conversa. Numa disputa estadual as variáveis são muitas e um possível acordo passaria pelo tamanho e pela qualidade da contribuição do Progressistas ao projeto. Eleição é bicho danado. Tudo pode acontecer, inclusive nada. Até porque há outro componente que deve pesar nessa articulação: o lugar do Progressistas na campanha presidencial.

A discussão é precoce. Há claramente um movimento de pressão sobre João. Pressão artificial, do tipo que pretende atropelar o caminho das coisas. A questão é: o que João ganharia com a antecipação do processo eleitoral? Por que alimentaria a fome de uns a um custo alto para ele próprio visto que geraria desgaste desnecessário? Está aí um problema que ele não precisa comprar. Não agora. Seria pouco estratégico. Há tempo pra tudo, e em política não perder o “time” é tão essencial quanto não adiantá-lo. Isso vale para a escolha de um vice ou uma vice.

Em 2014, a escolha foi por Lígia Feliciano, do PDT, aos 45 do segundo tempo. Em 2018, o nome de Lígia prevaleceu. Ser de Campina contou na tomada de decisão, mas será esse fator categórico para 2022? Uma gestão estadual bem avaliada e com ações na cidade precisaria “pagar ingresso” para entrar em Campina Grande? Um nome do sertão resolveria? Um nome indicado a partir de uma ampla unidade na base de apoio na Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) cumpriria este papel? O fato é qualquer nome lançado aqui seria exercício de futurologia, de adivinhação e não ajudaria em nada ao governo antecipar este debate.

Estando à frente do governo estadual, João Azevedo tem a capacidade de pautar a política local. Sua melhor estratégia, me lembra uma fonte, pode ser “fazer de sua agenda administrativa uma consulta plebiscitária nas eleições do ano que vem. Além disso, pesará o palanque nacional. João pode ocupar os espaços do campo progressista se aproximando do presidente Lula, diminuindo as margens de manobras para políticos situados neste campo e empurrando a oposição ao seu governo para o palanque de Jair Bolsonaro ou de alguma tentativa de terceira via”.

O lugar da política naturalmente é o de conflito de interesses. Encontrar pontos de convergência é impositivo, mas essa é uma construção que passa pelo diálogo. Não é coisa da noite para o dia. Mais uma vez: é uma questão de tempo a ser definido no tempo de João.