Opinião

Nilvan Ferreira é o novo “capitão” do PTB, o partido do estado mínimo

Não deu pra Bruno, o Cunha Lima. O comando do PTB paraibano ficou mesmo com Nilvan Ferreira, o radialista. Nilvan é da turma dos outsiders, mas sempre fez política ao microfone e, ao que parece, se consolida para as disputas eleitorais no estado. Não só porque se saiu bem nas eleições passadas para a prefeitura de João Pessoa, chegando ao segundo turno com o experiente Cícero Lucena (PP), mas porque assume a sexta maior legenda do país e a décima terceira mais rica. Recebeu em 2020, R$ 46.658.777,07 de Fundo Eleitoral (TSE). Se bem que na Paraíba, o PTB nunca foi muito longe. 

Há duas leituras, pelo menos, que podemos fazer desse fato. Primeira: ao optar por Nilvan, o presidente nacional do PTB mostra que a estatura política de Bruno não é das maiores. Preterido por Roberto Jefferson mesmo tendo encarnado o bolsonarismo, Bruno terá três opções: ficar no PSD e engolir uma possível aliança de Gilberto Kassab com Lula e o PT; partir para outra legenda que já tenha dono; esperar Jair Bolsonaro se decidir para onde ir e migrar junto com ele. De todo modo, corre o risco de ser mais um. A segunda diz respeito a Nilvan que caiu no moderado em MDB por acidente de percurso. O novo comandante do pedaço assume de vez a pegada da direita radical apesar da visível desaceleração no tom do discurso no segundo turno das eleições municipais, em novembro passado, o que, muito provavelmente, serviu para ampliar seu capital eleitoral embora não tenha sido suficiente.

No PTB, Nilvan terá a função de peitar João Azevêdo na disputa pelo governo. O Partido Trabalhista Brasileiro, em seu estatuto, diz que “é um partido reformista e de vanguarda, à frente de seu tempo, e que entende as aspirações da classe trabalhadora, da classe média urbana e do mundo rural”. Curiosamente, no mesmo documento, diz que “a única solução possível para a situação em que chegamos é a redução do Estado brasileiro, por meio da descentralização, desregulamentação e privatização”. Também em seu regimento, “O PTB propugna pela reformulação, revisão e simplificação das leis trabalhistas, visando facilitar seu entendimento, aplicação e permanente atualização em relação às necessidades da realidade do mercado de trabalho em um mundo de mudanças cada vez mais rápidas”. Epa! Há, no mínimo, um paradoxo aí. Não dá para falar em defesa dos trabalhadores quando se pauta pelos interesses de mercado. É o mesmo que servir a Deus e ao diabo, ou seja, conversa pra boi dormir! 

Estado mínimo em um país desigual (e desumano!), simplificação e desregulamentação que leva à precarização ( que o diga a financeirização da economia!) são, em regra, conceitos e práticas que acentuam a miséria. Se esses princípios norteiam o PTB, também nortearão Nilvan. Ou não? Temos aí o exato modelo do que virá pela frente para fazer oposição a João. Mas não será o único. Ainda não se sabe se surgirá um candidato de esquerda para brigar pelo executivo estadual. Possível – a depender de quem Lula vai apoiar – que todos estejam no mesmo barco. Do lado da direita, contudo, já tem muito cacique: Pedro Cunha Lima (PSDB), Romero Rodrigues (PSD), Daniella Ribeiro (PP)… todos disputando o mesmo público. Moral da história: ou se afinam até lá, ou se engolem e reeditam o fiasco de 2018 quando, desmobilizada, a direita perdeu feio nas urnas para um estreante.