Opinião

Pesquisa XP Investimentos e os sinais de que não há terceira via para as Eleições 2022

Cansou da polarização? Sinto dizer, mas a tendência é de acirramento, ventos fortes e trovoadas até as eleições 2022 por uma questão muito simples: Jair Bolsonaro já ocupa um dos polos do debate e os sinais de desidratação não representam uma ameaça em si. A base de apoio bolsonarista gira em torno de 30% do eleitorado brasileiro. Isso sequer é o teto. Com o avanço da vacinação e a retomada da economia, mesmo que de forma muita lenta e gradual, as chances desse percentual subir são reais. Isso sem contar com o apoio das Forças Armadas (FA) e de Segurança.

Pesquisa com abrangência nacional divulgada nesta sexta-feira pela XP Investimentos e realizada de 7 a 10 de junho, por telefone, com mil pessoas, mostra que as FA permanecem em alta entre os brasileiros, com 58% de confiança. Para Bolsonaro, chefe de um governo civil com maior número da história de militares, inclusive da ativa, desde a redemocratização do país, a notícia é animadora.

A CPI da covid-9 pode causar algum embaraço e desconforto ao presidente, mas o método “estica e puxa” de provocar tensionamento constante, de criar factóides para desviar o foco, não caducou. Pelo contrário! Sua eficácia se mostra diariamente. O candidato antissistema de 2018 é agora o presidente antissistema em busca da reeleição com a tática que tem uma assinatura muito peculiar: transferir responsabilidade. O “não é culpa minha” de Jair é a reiterada investida de se colocar à parte do sistema que ele mesmo ocupa e preside.

O discurso que abastece de ódio o secto bolsonarista serve também aos órfãos de fé na democracia e críticos contumazes das instituições. Para os eleitores que dizem não se identificar com as forças que ocupam e/ou disputam o território político, que flutuam no limbo dos indecisos, Bolsonaro pode não ser a melhor opção em 2022, mas pode parecer a única viável. Esse grupo representa outro terço do eleitorado capaz de decidir um pleito. Eis um dos paradoxos da democracia.

Com Bolsonaro forte na disputa, não há terceira via capaz de ocupar o lugar que já é dele. Ciro Gomes (PDT) tenta, mas de um jeito torto. Se insinua para os bolsonaristas arrependendidos. Peca no método e na forma. Como Bolsonaro, Ciro tem canalizado energia na divisão, no conflito, e quando se mostra incapaz de dialogar, se sabota. A Pesquisa da XP retrata bem isso. Ciro perdeu apoio, caiu de 9% para 6% nas intenções de voto do eleitor.

O outro polo da disputa será de quem tiver a capacidade de aglutinar projetos em defesa de um sistema democrático. Lula (PT) tem demonstrado disposição para isso, seja como candidato, seja como articulador de uma coalização capaz de derrotar Bolsonaro. Como candidato, se as eleições fossem hoje, o petista empataria tecnicamente com o atual presidente, com 32 contra 28 pontos percentuais, e ganharia de no segundo turno com 45% dos votos válidos contra 36% de Bolsonaro.

Outros números da Pesquisa: o ex-juiz Sérgio Moro apareceu com 7% das intenções de voto do eleitor; Luciano Huck, com 4%; Luiz Henrique Mandetta, 3%; João Dória, 3%; Guilhermo Boulos, 2%. Todos muito inexpressivos, sem chances reais de competição. Moral da história: esqueça a terceira via. As eleições de 2022 já tem seus protagonistas.