Opinião

Um evento, muitas mensagens e a pergunta que não quer calar: de que lado João está?

O pacotão de obras anunciado nesta segunda-feira pelo prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), já foi em si mesmo um acontecimento, mas não foi o único. Havia outras mensagens sendo transmitidas ali. O objetivo aqui não é tirar o foco de um projeto de R$ um bilhão de reais que vai ditar o ritmo da gestão pelos próximos anos, o que já seria desafiador o bastante sem pandemia. Mas para conseguir recursos foi preciso bom relacionamento. Tanto que não foram poucos os parceiros mencionados por Cícero e que participaram do evento, desde a bancada federal paraibana ao governador João Azevêdo (Cidadania).

Para Cícero, João é um “governador amigo”. Para João, Cícero é “corajoso e audacioso” e faz “exatamente aquilo que se espera da visão dele como um gestor”. Mas se o trabalho conjunto não convence os mais pragmáticos de pronto, a troca de afagos reverbera o que há entre os dois: uma relação bem irrigada apesar das apostas em contrário. Sem entrelinhas ou mensagens subliminares. Foi declaração explícita de que até aqui tudo vai bem.

Entre os deputados federais, uma presença chamou atenção entre Aguinaldo Ribeiro (PP) e Efraim Filho (DEM): a de Julian Lemos (PSL). Desprezado pelo clã bolsonarista, Julian procurou espaço na ala da direita não radical. Se encontrou ali porque há, entre eles, mais identificação que diferenças. Até aí nada demais. Curioso mesmo foi o discurso de João que o citou e agradeceu: “o deputado Julian Lemos, pela sua área de atuação, tem ajudado muito o estado  na área de segurança”. Ele reforçou: “construir uma gestão baseada no diálogo e na parceria é a melhor maneira para um estado que precisa dessa relação”.

João não citou parceiros de esquerda (Cícero o fez ao fim do evento, mas ele era o dono da casa e da “festa”, talvez se sentisse mais à vontade para fazê-lo sem constrangimentos). Há quem encare essa aproximação do campo da direita como uma confissão. Pode ser. João não come corda. Não diz que sim, nem diz que não. Até aqui, os interesses do Estado aparecem em perspectiva. A impressão é que João vai tentando contornar o tempo para maximizar os lucros. O Cidadania já tem lado. Escolheu o que chamou de “Centro Equilíbrio” que nada mais é do que a tentativa de construção de uma terceira via contra Lula e Bolsonaro. Só que João foi eleito com votos do campo progressista em 2018 e o projeto de reeleição exige que tome partido. Mais cedo ou mais tarde, a cobrança vai pesar e a escolha, apesar de dolorida, será inevitável.