Opinião

Com o rabo entre as pernas

Nelson Rosas Ribeiro

O presidente anda calado. Como um vira lata sarnento ronda as latas de lixo e os esgotos a procura da próxima podridão para saciar sua fome de destruição. É só o que ele sabe fazer liderando o seu bando de fanáticos. Como ele mesmo declarou “sou especialista em matar”. Mas não só matar pessoas. Matar a natureza, a economia, a cultura, a saúde, a educação, as florestas, o meio ambiente, tudo enfim. Até os símbolos nacionais foram profanados. Hoje, com patriotismo, lembramos a atualidade das palavras de Castro Alves ao referir-se à bandeira nacional: “Antes te houvessem roto na batalha, que servires a um povo de mortalha…”. Que fatores teriam concorrido para colocar no governo tal monstro? A humanidade já conheceu situações semelhantes que levaram ratos medíocres como Hitler e Mussolini ao poder. E todos conhecemos as consequências. A situação atual exige muito estudo e reflexão. Onde erramos e como corrigir os erros? Certamente há fatores internos, externos e tecnológicos cuja discussão ultrapassa os limites desta coluna.

Mas o que terá levado o cão hidrófobo a deixar de ladrar?

Destaco aqui dois tipos de fatores. Ele precisa ser reeleito sob pena de ir para a prisão junto com a família. É desesperador. As pesquisas mostram que toda vez que ele abre a boca aumenta a rejeição e a avaliação negativa. Já ultrapassam os 60%. Seus assessores lembraram o efeito “facada” que lhe deu a vitória, pelo silêncio, nas eleições passadas. O homem tem de ficar calado ou corre o risco de não ir para o segundo turno. Será que aguenta? Ou vão inventar nova facada? Há uma outra razão ligada a esta. Ele descobriu que mesmo sendo “comandante em chefe” das forças armadas nada comanda se não der ordens razoáveis. É de lembrar a figura do reizinho do “Pequeno Príncipe” que nunca era desobedecido porque só dava ordens razoáveis. Ele não pode dar um golpe pois não será obedecido pelos militares. Terrível descoberta. Resta um caminho: a reeleição.

Mas, a cada dia que passa torna-se mais difícil. A economia caminha para o desastre. A tão propalada recuperação em V (de voo da galinha) do sinistro Guedes vira K ou boca de jacaré: rico para cima e pobre para baixo. Até o próprio Guedes não confia na sua gestão. Guarda seus milhões de dólares em uma offshore. O crédito está mais caro comandado pelo Banco Central (BC) que continua a elevar a taxa de referência Selic, atualmente em 6,25%, mas com tendência de subir o que for necessário para “conter” a inflação, podendo chegar a 10% no fim do ano. Tudo de acordo com a ideologia do BC. A taxa de desemprego, apesar de uma pequena queda, se mantém em dois dígitos 13,7%, mas, há 14,1 milhões sem trabalho, dos postos criados 66,8% são de emprego informal, há 7,73 milhões de pessoas trabalhando menos horas e 25,172 milhões de trabalhadores por conta própria. As estimativas de crescimento do PIB são rebaixadas por todas as consultorias, e segundo o Banco Mundial será inferior à média da América Latina. O varejo restrito teve, em agosto, em relação a julho, a terceira maior queda da história (3,1%) e o varejo ampliado caiu 2,5%. É preciso juntar a isto a crise energética e a inflação que se mantém em alta, sem controle.

Do exterior não temos boas notícias. A recuperação em marcha mostra fortes sinais de desaceleração agravados pelo crescimento da inflação e pela crise energética que agora se expande para os Estados Unidos, Índia e China. Em todos os casos o problema é a falta de combustíveis fósseis, principalmente carvão e gás natural. Na Índia o carvão é responsável por 70% da energia produzida. O petróleo atinge os US$80, a maior cotação em 3 anos e o gás tem o mais alto preço em 7 anos. Os portos estão congestionados, as cadeias de abastecimento rompidas, há escassez de mão de obra, e a inflação se expande para os alimentos. O índice de preços de alimentos da FAO subiu 1,2% em setembro.

Somando-se a desmoralização do Brasil em todos os fóruns internacionais o ambiente externo tanto para a reeleição como para o golpe está muito adverso.

Pobre presidente! É mesmo muito difícil governar!

Nelson Rosas Ribeiro é Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; [email protected]. Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves

Publicado originalmente em (www.progeb.blogspot.com).