Alerta, Saúde

Dermatologistas descobrem causa do surto misterioso de coceira que afetou população do Recife e Paraíba

Dermatologistas que atuam no Nordeste ajudaram a resolver um mistério que afetava moradores de munícipios da Região Metropolitana de Recife e de estados vizinhos, a exemplo da Paraíba onde alguns poucos casos foram relatados. Com o suporte da Sociedade Brasileira da especialidade (SBD), eles implementaram uma série de ações que permitiram identificar as causas de mais de 200 casos de dermatites registrados nas localidades. As queixas dos pacientes foram divulgadas pela imprensa em função de suas características e do desconhecimento da sua origem, até o momento. Por fim, foi confirmado que o problema tem relação com as asas de uma mariposa.

O surto de dermatites pápulo-eritêmato-pruriginosas, com aspecto urticariforme, desafiou os serviços médicos da cidade. Os casos aconteceram com maior incidência em duas comunidades limítrofes à mata, localizadas em uma área de reserva de mata Atlântica do Parque Estadual de Dois Irmãos, no Recife (PE).

Trabalho realizado pelos dermatologistas Cláudia Ferraz e Vidal Haddad Junior permitiu descartar várias hipóteses levantadas para explicar a origem do surto. Entre as possibilidades aventadas, estavam intoxicação por ivermectina, escabiose (sarna), picadas de insetos e outras. Contudo nenhuma com comprovação técnica ou científica.

“A hipótese de escabiose era absurda, pois o tipo de transmissão é outro, a distribuição e aspecto das lesões cutâneas eram distintos e nenhum ácaro foi achado em muitas amostras de exame direto e exames histopatológicos”, cita nota técnica assinada pelos dois especialistas da SBD.

Para identificar as causas reais, a dermatologista Cláudia Ferraz conduziu uma pesquisa sobre a história epidemiológica correta e descreveu adequadamente as lesões, o que levou a suspeitar da provável etiologia. Por sua vez, Vidal Haddad Junior, que havia testemunhado e publicado outros surtos, esclareceu a etiologia da erupção.

A chave do problema repousa nas asas de mariposas do gênero Hylesia, que se reproduzem nesta época do ano e causam epidemias de dermatites em vários pontos do país. Estes insetos entram em ambientes domésticos e ao se debaterem contra focos de luz, liberam cerdas corporais minúsculas que penetram profundamente na pele humana e causam a intensa dermatite observada.

Além da inflamação inicial, descrita na histopatologia como um infiltrado linfocitário, existe a probabilidade de formação de granulomas em fases posteriores. A dermatite permanece por dias e até semanas, devido à permanência das cerdas (“flechettes”) na pele. Estas cerdas podem ser observadas na pele e exames realizados as mostraram com clareza.

Os especialistas da SBD explicam que o tratamento é feito com foco na inflamação com corticoides tópicos e anti-histamínicos e, por vezes, dependendo da extensão das lesões, o uso de corticoides sistêmicos pode ser necessário. “Com a comprovação das cerdas no exame direto, história clínica e epidemiológica extremamente compatível e relato de mariposas no local feito pelos moradores, concluímos que o mistério está resolvido e esperamos que os tratamentos corretos sejam ministrados à população”, assinalam os dermatologistas Claudia Ferraz e Vidal Haddad Júnior.

Lesões papulosas e eritematosas em face interna dos antebraços decorrentes da dermatite

Exame direto de lesão papulosa mostrando presença de estruturas alongadas compatíveis com cerdas da Hylesia.

Extraído de www.sbd-pe.org.br