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Mulheres indígenas lançam pré-candidaturas da Bancada do Cocar. Índia Potiguara tenta uma vaga na ALPB

Sob lema de Aldear a Política, mulheres indígenas de diversos povos lançaram suas pré-candidaturas para concorrer nas eleições de 2022 aos cargos federais e estaduais. A Paraíba terá apenas uma candidatura indígena colocada nas próximas eleições. Trata-se de Comadre Guerreira, que deve disputar o pleito pela Rede Sustentabilidade.

Foi de Sônia Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e umas das principais lideranças indígenas do país, que concorrerá ao cargo de deputada federal pelo PSOL, a fala que abriu o movimento de mulheres indígenas para aumentar a representatividade indígena nos parlamentos e contra o avanço na mineração e a destruição das tradições dos povos no Brasil.

“Essa força das mulheres indígenas vêm de várias partes do Brasil. E nós estamos aqui hoje enfrentando mais um desafio. Desafios que a gente enfrenta há cinco séculos. Mas agora nós estamos dando um passo à frente. Nós queremos ocupar a política institucional. Nós estamos aqui pra dizer que nós nunca mais vamos aceitar um Brasil sem nós. E a gente não vai enfrentar mais esse desafio porque é fácil. A gente aceitou enfrentar mais esse desafio porque nós cansamos de ver nossas crianças sendo sugadas pelas dragas do garimpo ilegal. Nós cansamos de ver nossas crianças sendo contaminadas pelo mercúrio das mineradoras. Pela lama que não vale a vida de ninguém. Nós aceitamos esse desafio porque nós não queremos mais ver as nossas florestas sangrarem.”

Sônia é uma das representantes do movimento que visa instalar a ‘bancada do cocar’ no Congresso Nacional, confrontando com a já existente bancada ruralista.

“Essa bancada que se apresenta aqui hoje é bancada do Cocar para substituir a bancada ruralista. Para substituir a bancada da bala. Nós queremos que o Congresso Nacional tenha a cara do Brasil e para ter a cara do Brasil tem que ter mais mulheres indígenas.”

Em 2022, a Rede Sustentabilidade levantou  na Paraíba a busca pela diversidade e encontrou no município de Baia da Traição, litoral Norte da Paraíba, o nome e a voz da Comadre Guerreira. A india da tribo Potiguara, saiu do Cidadania e ingressou na Rede, para tentar uma candidatura à Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB).

Maria Soares Gomes, a Comadre Guerreira representa a Aldeia Lagoa do Mato – Baía da Traição. Ela é artesã, raizeira e liderança na Associação das Mulheres Guerreiras Indígenas Potiguaras (AMGIP).

Guerreia diz que tem o apoio de outros indígenas e acredita que eles possam conquistar a representatividade. Entre as pautas e intenções, estão a luta pelo território e pela perpetuação das tradições indígenas.

“Nossa luta é para que nosso lugar seja preservado, que possamos ser respeitados. Nosso povo tem conhecimento, temos nossas tradições”, explicou.

A Índia foi uma das representantes dos mais de 20 mil índios que habitam o litoral Norte da Paraíba, no Movimento Terra Livre que acontece em Brasília.

Foi lá o lançamento da Bancada do Cocar está alinhada com a estratégia dos povos originários de ocupar o parlamento para ampliar a capacidade de luta e mobilização e barrar os ataques aos territórios indígenas.

O Política Por Elas consultou outras legendas partidárias como PSOL, PSB, UP, PT para saber a intenção de postular candidaturas indígenas nas próximas eleições. Mas nenhumas das legendas que são tradicionalmente de esquerda apresentou a intenção ou nomes para a disputa.

A UP informou, por meio da Assessoria que tem pessoas indígenas que participam dos movimentos ligados à UP, mas não estão formalmente filiadas e, portanto, não vão lançar candidaturas.

“Não suportamos mais ser roídos pela mineração”

Em 2020 o Brasil elegeu a bancada parlamentar mais conservadora desde a redemocratização. Dos 513 deputados federais eleitos, apenas uma representação indígena conseguiu se eleger, a deputada federal Joênia Wapichana (REDE-RR).

“Nos perguntam: Vocês estão preparadas? E por que são vocês que tem condições de ocupar o Congresso Nacional?  Porque não somos nós, mulheres indígenas, que temos as mãos sujas nem de sangue nem de lama pela mineração. Nós não estamos indo pelo poder, mas é pra poder fazer. Não exatamente por causa, mas é pela causa. Não é para corromper, mas é para romper. Porque nós queremos ser lembradas não somente como uma política na história, queremos fazer história na política. Não existe amor à pátria se respeitar a mulher mátria, sem respeitar por onde o Brasil começa”.

Declarou Célia Xakriabá, que concorrerá ao Congresso Nacional por Minas Gerais. Ela lembrou os estragos da mineração em Minas Gerais, hoje monopolizado pela Vale, que levou aos maiores desastres ambientais da história do país, matando o Rio Doce.

Célia reforçou a necessidade de eleger uma bancada ancestral composta por mulheres originárias. Ela lembrou que os povos indígenas, mesmo sendo apenas 5% da população, cuidam de 83% da biodiversidade do mundo. Para ela, esta representação também é dos mais de 4 milhões de indígenas assassinados nesses 522 anos de Brasil.

“Nós não queremos somente chegar com um único cocar, nós queremos chegar com muitos cocares, nós queremos também desafiar e amansar essa caneta, indigenizar essa caneta, indigenizar o Congresso Nacional.  Sou pré-candidata a deputada federal pelo estado de Minas Gerais porque não suportamos mais ser roídos pela mineração. Somos pré-candidatas pela bancada do Brasil ancestral porque nós queremos chegar fortalecidas com a presença das mulheres indígenas”, disse.

Da aldeia Teles Pires, divisa entre Mato Grosso e Pará, Ediene Munduruku levou a Brasília a sua resistência e prometeu continuar lutando contra os “projetos da morte” da base governista.

“Repudiamos o governo Bolsonaro genocida. O povo Munduruku diz ‘não’ ao PL 191 e ‘não’ ao marco temporal. Resistimos com toda a força de poder de nossas ancestralidades. Estamos aqui para defender os nossos costumes e direitos. Queremos os nossos territórios, vidas e futuro livres. Não aceitamos devastação, destruição e não aceitamos mais ameaças contra as mulheres indígenas. Não irão matar as nossas vozes, porque somos a resistência de nossos territórios”, afirmou Ediene.

Telma Taurepang, de Roraima, ressaltou a importância da unidade das mulheres no projeto de aldear a política. “Não vamos deixar partido nenhum nos dividir. A minha luta vai ser contra aqueles que não nos querem ver vivos. Aqueles que estão há mais de 20, 30 anos para nos destruir. Que fazem PLs, PECs para nos matar. Espero que ano que vem a gente faça um novo Acampamento Terra Livre, mas com pessoas compromissadas com o povo, eleitas no Congresso Nacional”.

Na mesa, foram anunciadas as pré-candidaturas para deputadas federais de Sônia Guajajara, Célia Xakriabá, Juliana Jenipapo Kanindé, Eunice Kerexu, Vanda Ortega, do povo Witoto do Amazonas, Telma Taurepang e Larissa Pankararu.

E as pré-candidaturas a deputadas estaduais de Chirley Pankará, co-deputada pela Mandata Ativista, do PSOL em São Paulo; Eliane Xunakalo; Simone Karipuna; Comadre Guerreira Potiguara, da Paraíba; Airy Gavião, do povo Gavião e do povo Tukano, do mandato coletivo indígena do Distrito Federal; Val Eloy, do povo Terena do Mato Grosso do Sul; Geni Guarani, Tereza Arapium, cacica da aldeia Andirá do baixo Tapajós, Ingrid Assis, Sateré Mawé de Santa Catarina e Joênia Wapichana, a primeira mulher indígena a exercer o cargo de deputada federal no Brasil.

 

*Com informações da Apib

Fotos por Rebeca Bind