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“Cadê os Yanomami?” Campanha para averiguar a situação de crianças, adolescentes e mulheres da comunidade chega à Câmara dos Deputados

O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou requerimento para criação de uma comissão externa de deputados para averiguar a situação de crianças, adolescentes e mulheres da comunidade Aracaçá, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, que teriam sido vítimas de violência praticada por garimpeiros que exploram ilegalmente a região.

Denúncia divulgada na semana passada aponta que uma menina indígena teria morrido após ser estuprada e de que outra teria desaparecido em um episódio envolvendo garimpeiros. A Polícia Federal visitou a aldeia para apurar a denúncia e a encontrou queimada, sem a presença dos moradores.

O caso ganhou repercussão nacional e motivou a campanha “CADÊ OS YANOMAMI” nas redes sociais.

A comissão externa foi proposta pelas deputadas Erika Kokay e Joenia Wapichana, com apoio de outros parlamentares. “Ninguém pode ficar indiferente a isso”, disse Wapichana. O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, irá criar a comissão externa e indicar os membros.

Mas o que aconteceu?

Em abril, Júnior Hekurari, presidente do Condisi (Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana), publicou um vídeo denunciando crimes de sequestro, estupro e feminicídio praticados por garimpeiros ilegais na comunidade Aracaçá. Após a denúncia, equipes especializadas chegaram à região, mas a comunidade já não ocupava mais o mesmo lugar.

De acordo com a denúncia do líder indígena, uma criança de 12 anos foi sequestrada na aldeia quando a maioria dos homens da comunidade estava fora, caçando. A vítima foi estuprada até a morte e seu corpo só foi encontrado alguns dias depois por moradores.

Hekurari ainda conta que os garimpeiros levaram também uma mulher adulta e uma criança de 4 anos. Ambas foram jogadas no Rio Uraricoera. A mulher conseguiu fugir, mas a menor de idade veio a óbito. O corpo ficou desaparecido no rio por alguns dias até ser encontrado.

“É muito triste que esteja acontecendo isso com o meu povo”, desabafou o líder Yanomami no vídeo. Assista:

 

O que dizem as autoridades sobre o ‘sumiço’ dos indígenas?

Equipes integradas e especializadas da Polícia Federal, do Ministério Público Federal (MPF), da Funai (Fundação Nacional do Índio) e Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) viajaram até a região de Waikás para investigar as denúncias. A Força Aérea Brasileira também participou da operação, segundo informações do Governo Federal.

As versões das equipes, no entanto, são divergentes. Em nota oficial, o MPF afirmou que “não foram encontrados indícios materiais da prática dos crimes de homicídio e estupro ou de óbito por afogamento” mas que continuavam “em diligência em busca de esclarecimentos”.

Já o Condisi diz o contrário. Júnior Hekurari, que acompanhou as buscas, informou que, na realidade, quando chegaram à aldeia, ela não mais existia. Além do povo ter sumido, havia marcas de que um incêndio ocorrera. A denúncia suscitou uma onda de comoção na internet com a campanha “Cadê os Yanomami”.

“Alguns lideres Indígenas se reuniram e analisaram as imagens da comunidade queimada e relataram que, conforme costume e tradições, após a morte de um ente querido a comunidade em que ele residia é queimada e todos vão para outro local“, informou o Condisi para a CNN.

A organização ainda afirma que algumas testemunhas relataram ter sido coagidas por garimpeiros e que ouro foi oferecido em troca do silêncio. Por isso, a entidade não descarta hipótese de um incêndio criminoso. Para Hekurari, os moradores estão vagando pela floresta até encontrarem um local mais seguro para se estabelecerem novamente.