A má fama de Bolsonaro no Mundo
O indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 36 pessoas por tentativa de golpe de Estado repercutiu além do Brasil. Logo que a Polícia Federal (PF) divulgou a lista de indiciados, na tarde desta quinta-feira 21, as manchetes internacionais foram dominadas pelo caso.
De um modo geral, as publicações destacaram o agravamento dos problemas legais de Bolsonaro, chamando a atenção para o fato de que o caso distancia Bolsonaro do centro do poder da direita brasileira.
O norte-americano The New York Times, por exemplo, chama a atenção para o fato de que as acusações “agravam significativamente os problemas legais” do ex-presidente. “As autoridades afirmaram que Bolsonaro, junto com dezenas de assessores próximos, ministros e líderes militares, participou de um plano para reverter os resultados das eleições”, destaca reportagem do NYT.
Na França, o Le Monde apresentou aos leitores um resumo do relatório da PF, mostrando a extensão da lista de indiciados. Ao tratar da reação de Bolsonaro ao indiciamento, o jornal citou que “Bolsonaro acusou o juiz responsável pela investigação de agir ‘fora da lei’. O juiz Alexandre de Moraes ‘faz tudo o que a lei não diz’, escreveu o ex-presidente no X (anteriormente Twitter). O relatório deve ser encaminhado ao Supremo”, diz.
Outro jornal dos EUA que deu destaque ao caso foi o Washington Post, que mencionou que Bolsonaro “negou todas as alegações de que tentou permanecer no cargo após sua derrota eleitoral em 2022 para seu rival”. A publicação ainda cita os outros dois casos em que Bolsonaro foi indiciado pela PF. “Outras investigações focam em seus papéis potenciais no contrabando de joias de diamante para o Brasil sem declará-las adequadamente, e em direcionar um subordinado para falsificar seu status de vacinação contra a Covid-19 e de outros. Bolsonaro negou qualquer envolvimento em ambos”, diz o jornal.
Voltando à Europa, o espanhol El País conectou o indiciamento de Bolsonaro com a condenação sofrida no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que o torna inelegível até 2030. O ex-presidente “foi condenado por abuso de poder, por aproveitar o cargo presidencial para questionar sistematicamente a segurança do sistema de votação”.
O britânico The Guardian publicou uma reportagem em que detalha o quadro político brasileiro atual, chamando a atenção para o fato de que, embora Lula esteja no poder, “a ameaça da extrema-direita à sua administração permanece”. “Na noite da última quarta-feira, um membro do partido político de Bolsonaro foi morto após aparentemente se explodir com explosivos caseiros enquanto atacava o Supremo Tribunal Federal”. A publicação define Bolsonaro como “um capitão do Exército desonrado que se tornou político populista”.
Duas redes de destaque do continente europeu, a alemã Deutsche Welle (DW) e a britânica BBC, também destacaram o indiciamento. Segundo a DW, “provas baseadas em mandados de busca, escutas telefônicas, registros financeiros e depoimentos de delação premiada mostram que os conspiradores dividiram os seus esforços entre espalhar desinformação, incitar o Exército a aderir ao golpe e apoio operacional ao mesmo”.
A BBC, por sua vez, chamou o indiciamento de “um novo golpe para os apoiadores de extrema-direita de Bolsonaro, que esperavam reverter a proibição que o impedia de assumir o cargo a tempo dele concorrer à Presidência em 2026″.
Já no Oriente Médio, a rede de televisão Al Jazeera citou o envolvimento de Bolsonaro em uma “conspiração golpista”. “Uma semana após a posse do presidente Lula, em janeiro de 2023, os apoiadores de Bolsonaro revoltaram-se na capital Brasília. Alguns manifestantes na altura disseram que queriam criar as condições para um golpe militar, e há muito que há dúvidas sobre o envolvimento de Bolsonaro na instigação dos motins”, mencionou.
Na Argentina, os jornais La Nación e Clarín, de maior circulação no país, também dedicaram páginas ao caso. No primeiro caso, o jornal apontou que “o relógio começa a correr para Bolsonaro na investigação mais delicada contra ele”. Já o Clarín menciona os “supostos complôs subversivos desenvolvidos por Bolsonaro”.
Carta Capital