A guerra agrava a crise econômica

A Europa está em pânico. A Rússia começou uma guerra ilegal e perversa com a invasão da Ucrânia, respondendo às provocações militares da OTAN. A OTAN e os EUA deflagraram retaliações econômicas igualmente ilegais contra a Rússia e passaram a pressionar todos os países e empresas para aplicaram as sanções. Agora começam a surgir as constatações que estas sanções não podem ser aplicadas a todos os setores pois o setor da energia (gás, petróleo, carvão) deve ficar fora. Lembraram que mais da metade do carvão e do gás e 33% do petróleo consumidos na Alemanha são importados da Rússia. O presidente a BDI entidade que reúne mais de 100.000 empresas alemãs declarou que o boicote ao gás russo ameaça destruir a União Europeia (UE). As consequências previstas são incalculáveis, o danos são enormes, instala-se a recessão, o desemprego e falências de muitas empresas. Segundo premier alemão Olaf Scholz o boicote traria a recessão. É o efeito bumerangue.

A Comissão Europeia também está preocupada. A crise terá um impacto severo com aumento da inflação dos alimentos e da energia. Os Índices de confiança dos investidores, dos consumidores e dos empresários estão caindo. A presidente do Banco Central Europeu (BCE) Christine Lagarde afirmou que o crescimento vai cair, a inflação vai aumentar, principalmente com os preços dos alimentos e da energia, o comércio vai se reduzir. Está sendo promovido um cerco financeiro à Rússia jamais visto esquecendo que ela é uma grande fornecedora de petróleo, grãos, minérios e fertilizantes o que poderá provocar um grande choque de oferta e contribuir para uma ruptura do sistema global.

A Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) Reduziu sua estimativa para o crescimento do PIB mundial de 2022, de 3,6% para 2,6%. A Unctad prevê o enfraquecimento da demanda global, o aumento do endividamento, o surgimento de ondas de choque financeiro, o aumento da insolvência, recessão, queda no desenvolvimento, aumento nos preços dos combustíveis e alimentos, enfraquecimento da recuperação dos países em desenvolvimento. A guerra vai frear a economia mundial. E para agravar a situação a China começou um lockdown por causa de um novo surto de covid com a variante delta.

Ao mesmo tempo cresce o temor de uma crise alimentar no mundo. Diante das restrições impostas e do perigo que se prepara para as trocas comerciais cada país toma as medidas para proteger seus mercados e suas populações. As primeiras medidas tomadas já são de reduzir as exportações de produtos alimentícios e importar para fazer estoques estratégicos. Além da Rússia a Ucrânia sempre foi considerada o celeiro do mundo na exportação de grãos. Teme-se o efeito cascata: grãos – rações – carne. Alguns países já estão fazendo restrições às exportações. A Indonésia com o óleo de palma, a Argentina com o óleo e farelo de soja, o Egito com farinha, lentilha e trigo., a Moldávia e a Servia com trigo e açúcar. Os EUA, ainda pouco afetado pela crise, sente o peso da inflação, que em janeiro atingiu 6,1%. O presidente do Federal Reserve (Fed), Banco Central americano, já declarou sua intenção de elevar os juros em 0,5%.

A globalização, que vinha sofrendo duros golpes com as restrições impostas pelo covid, sofre mais ataques com as decisões de boicote tomadas pelos países ocidentais ligados à NATO. Fala-se agora no fim da colaboração ocidente – oriente e que a guerra deflagrada pela Rússia vai refazer o mundo. Guerra que, do campo militar, se estendeu para o econômico com a decisão russa de exigir o pagamento pelos seus produtos energéticos exportados em rublos o que obriga os compradores a adquirir a moeda nos mercados valorizando-a.

Este é o ambiente internacional que envolve a nossa débil economia que já vinha começando o ano muito mal. Para janeiro, a Pesquisa Industrial Mensal Regional (PIM Regional) mostrou queda da produção industrial em 10 dos 15 locais pesquisados. Em 20 dos 26 ramos o crescimento foi negativo. O Ibre FGV estima o crescimento do PIB este ano em 0,6%, O BC propõe um crescimento de 1%, mas o mercado mantém uma média de 0,5%. Os economistas projetam uma taxa de desemprego de 11% no final do ano com um total de 12 milhões de desempregados e a Pnad Contínua mostra que o número de desalentados (os que estão desempregados, mas não procuram emprego) atinge 4,8 milhões ou seja quase 3% da população em idade para trabalhar.

O que se espera para o país é então: inflação resistente, juros altos, crescimento baixo, comércio desacelerando, cadeias de suprimento desorganizadas, incerteza global, aumento do desemprego.

O governo está em pânico. Demitiu o ministro da Educação, flagrado privilegiando pastores lobistas amigos do próprio presidente, depois de declarar que botava a “cara no fogo” por ele. Demitiu o presidente da Petrobrás acusado de não conseguir reduzir o preço dos combustíveis, reduziu alíquota de impostos, aprovou um pacote de bondades que já tratamos em Análise anterior, zerou tarifas para a importação de alguns alimentos (café, álcool, açúcar etc.). É o vale tudo para as eleições. Na dúvida, para o caso de derrota, solta mais novas ameaças de golpe caso não seja eleito.

E assim vamos nós aos trancos e barrancos.