A volta dos que não foram

O poder é inerente ao ser humano. É a expressão mais forte da organização social. Sem o poder político, não haveria comunidade, sociedade, civilização. Não haveria humanidade. Sem o poder, nada poderia ser feito. Ele apaixona, fascina, vicia. E também pode ser o mais poderoso dos alucinógenos.

Ricardo Coutinho e Cássio Cunha Lima são vocacionados para o poder. Por diferentes caminhos, buscam conquistar e manter-se no proscênio da vida pública. Fizeram trajetórias políticas de sucesso. Cada um à sua maneira, exercem o carisma que os tornam líderes incontestes.

Cássio foi prefeito de Campina Grande, deputado federal, governador, senador. Primeiro no PMDB, depois no PSDB. Partidos de centro-direita. Ricardo Coutinho foi vereador, deputado estadual, prefeito e governador. Primeiro pelo PT, depois PSB. Partidos de centro-esquerda.

Tanto Ricardo quanto Cássio já amargaram derrotas em pleitos recentes.

Em 2018, Cássio perdeu a reeleição para senador, ficando em quarto lugar. Cabe ressaltar que ele ficou em segundo lugar em Campina Grande, seu reduto eleitoral. Em 2020, Ricardo foi derrotado na eleição para prefeito de João Pessoa, seu reduto eleitoral, chegou em sexto lugar. Os dois são animais políticos experientes. Sabem que a derrota faz parte do jogo democrático.

Eles desejam voltar a ter o poder real, aquele que decide sobre a vida das pessoas. Governo de estado, Senado ou Câmara Federal? Ainda não sabem. Mas Ricardo e Cássio já se movimentam. Analisam o quadro político nacional e estadual. Como Hamlet, personagem mais emblemático do dramaturgo William Shakespeare, os dois pesam e ponderam diante do espelho: “Ser ou não ser, eis a questão.”

No país polarizado entre Lula e Bolsonaro, Ricardo Coutinho tem uma lógica política mais clara. Já a definiu. Seu apoio incondicional ao candidato petista demarca terreno, delimita espaço, assume um viés ideológico mais explícito.

Enquanto isso, Cássio Cunha Lima aguarda, calcula para aonde se deslocar. O PSDB não apresentou, até agora, um candidato presidencial viável. Apoiar explicitamente Bolsonaro o colocaria num campo oposto a Lula, com lucro político dos que são visceralmente contra o PT. Mas causaria um desgaste profundo diante da queda vertiginosa de Bolsonaro nas pesquisas.

Um ano na política é uma eternidade. Ricardo e Cássio estão se movendo. Sem saber, por enquanto, aonde querem chegar. Por enquanto…