Abolição e Preconceito

O Brasil foi o último país nas Américas a acabar com a escravidão. Durante 388 anos de história, primeiro como colônia de Portugal e depois como nação independente, o escravismo foi a base econômica e social do país.

Os indígenas foram os primeiros a serem escravizados. Por não aceitarem a religião católica nem o domínio da monarquia lusitana, muitos ameríndios se rebelaram. Sob o argumento da “Guerra Justa”, eles foram perseguidos, torturados, massacrados e os que sobreviveram eram capturados e transformados em escravos. Depois de batizados, mudarem de nome e serem afastados da sua cultura, eram obrigados a trabalhar nas grandes fazendas dos conquistadores.

Com as guerras, doenças e maltratos, vários povos indígenas foram dizimados. Como os europeus já estavam viciados no açúcar, as fazendas precisavam continuar a ampliar produção. A escravidão dos africanos, já largamente utilizada pelos portugueses nas ilhas atlânticas (Madeira e Açores), também passou a ser empregada no Brasil para expansão do cultivo da cana-de-açúcar.
Em consequência, o tráfico negreiro se intensificou. Mercadores europeus fizeram fortuna com o comércio de carne humana. Milhões de homens, mulheres e crianças foram arrancados da África. Trocados por armas e bebidas, os escravizados eram amontoados nos porões dos navios. As condições de higiene e alimentação eram tão precárias que essas embarcações eram chamadas de “tumbeiros”. Em torno de 25% dos escravizados morriam durante a viagem e seus corpos eram jogados para os tubarões.

Ao chegarem nos portos brasileiros, eram confinados até ganharem peso. Nos dias de feira, eram expostos como animais e vendidos para os fazendeiros. Muitos eram marcados com ferro em brasa. Os mais fortes eram destinados ao trabalho pesado nas plantações. As mulheres eram empregadas em diversas tarefas e constantemente estupradas pelos patrões e seus filhos.

A comida era pouca e a jornada começava com a primeira luz do sol. Ao término do exaustivo trabalho, controlados pelo chicote do feitor, retornavam amarrados uns aos outros. Dormiam em senzalas, acorrentados para não fugirem nem se rebelarem. A média de vida de um escravo do eito era de oito anos. Mas foi o trabalho dos africanos escravizados que propiciou a grandeza do império português e a riqueza dos senhores de engenho.

Os escravos sonhavam acordados. Desejavam a liberdade. Assim, as fugas eram constantes. Eles se embrenhavam nas florestas e tentavam reconstituir a vida em comunidade. Centenas de quilombos foram formados no Brasil. O Quilombo dos Palmares foi o mais notório, durou mais de cem anos até ser destruído pelas forças militares em 20 de novembro de 1695.

Quando ocorreu a abolição da escravatura, no dia 13 de maio de 1888, havia entre 500 mil e 700 mil escravos. De uma hora para outra, foram abandonados à própria sorte. Nenhum deles recebeu indenização. A maioria permaneceu nas fazendas, em condições análogas à escravidão: trabalhando em troca de comida e algumas roupas usadas.

Passados 134 anos do fim da escravidão, o preconceito racial continua vigente no nosso cotidiano. É a prática social para manter a exclusão dos negros do processo histórico. É o instrumento político da elite branca para perpetuar-se no poder.