Aliança estratégica

O ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill foi militar, político, historiador e exímio escritor. É dele a famosa frase: “A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes.” Eu complementaria: e pode ressuscitar muitas vezes.

A aliança política explícita entre Ricardo Coutinho (PT) e Lula (PT) é exemplo da sentença imortal de sir Churchill. Há dois anos, tanto o ex-presidente quanto o ex-governador amargavam as consequências de acusações de malversação de dinheiro público, sendo ambos expostos à execração nacional por operações jurídico-policiais (Lava Jato e Calvário) de grande exposição midiática. Tudo indicava que ambos haviam alcançado o fim do poço.

Quando ainda governador, Ricardo Coutinho prestou solidariedade à presidente Dilma (PT), durante o processo de impeachment, em 2016, mesmo quando seu partido na época, o PSB, havia se afastado da presidente e apoiado a sua saída do governo. Em 2018, contrariando seu partido, RC visitou o ex-presidente Lula na cadeia em Curitiba. Lula nunca esqueceu o seu gesto.

Mesmo com a onda antipetista que varreu o país em 2018, Ricardo Coutinho apoiou o candidato a presidente Fernando Haddad (PT) desde o primeiro turno. Não disputando nenhum cargo eletivo nesse mesmo ano, RC contribuiu fortemente para eleger João Azevedo governador, Veneziano senador, um deputado federal e vários deputados estaduais.

Com o início da operação Calvário e não contando mais com o controle da máquina estadual, Ricardo Coutinho viu sua base política desvanecer. Como era esperado, João Azevedo e RC romperam relações políticas. Criador e criatura passaram a disparar mútuas críticas através da imprensa.

A situação política de Ricardo Coutinho dentro do PSB ficou insustentável. De estrela ascendente em âmbito nacional, ocupando o espaço deixado por Eduardo Campos, passara a ser pernona non grata entre os socialistas. Em 2020, sem respaldo da direção nacional do PSB, RC concorreu à prefeitura da capital e obteve apenas 10,68%, amargando o 6º lugar. Muitos anunciaram que sua trajetória política havia terminado. Ledo engano. Esqueceram os ensinamentos de Churchill.

Com a saída de Lula da prisão e o profundo desgaste do governo Bolsonaro, o cenário político nacional mudou radicalmente. O ex-presidente passou a liderar todas as pesquisas eleitorais. Enquanto isso, Ricardo Coutinho, com o aval de Lula e da cúpula nacional do Partido dos Trabalhadores, venceu a resistência que havia no PT estadual e ingressou no partido com musculatura política suficiente para alterar a correlação de forças estaduais numa eleição que será, inegavelmente, extremamente nacionalizada.

Mirando retornar ao Palácio da Redenção em 2024, Ricardo Coutinho pleiteia uma vaga no senado em 2022. Para isso, conta com um forte cabo eleitoral: Luís Inácio Lula da Silva.