“Atrás disso tem uma inteligência estratégica”

A afirmação do título é de Rubem Ricúpero ex-secretário geral da Unctad, ao analisar os atos brutais que foram praticados na praça dos três poderes. Controlada a situação após a intervenção das forças policiais do DF e passados os momentos de terror, quando não se sabia o que viria a ocorrer, as coisas começam a voltar à normalidade. Se é que se pode falar em normalidade em um país tão anormal como o nosso.

As apurações e inquéritos estão em andamento, com algumas prisões, bloqueios de recursos, buscas e apreensões e tudo a que se tem direito. Mas, a justiça se move com a costumeira lentidão. Diz-se por aí, que a justiça tarda, mas não falha. Esperemos que assim seja.

Como costuma acontecer, os baderneiros, cercados de advogados, choram e protestam pelos seus direitos. Aqueles mesmos que afirmavam dias atrás que “bandido bom é bandido morto”. Há que se destacar que a repressão aos vândalos foi branda e educada e tecnicamente muito bem-feita, sem mortos e poucos feridos. Diferente seria, provavelmente, se eles fossem estudantes, professores, operários ou gente do MST. Curioso é que a maior parte dos marginais presos o foi no acampamento do quartel do exército em Brasília. Conclui-se logicamente que o quartel havia se transformado em um covil de marginais e o coiteiro era o general comandante, que continua impune. Até o artefato que deveria explodir em um caminhão de combustíveis lá foi preparado, quem sabe, com assessoria de técnicos competentes locais.

Aliás, não seria de surpreender, pois até o ex-presidente Bolsonaro já havia usado esta expertise para promover atentados contra a própria instituição, sendo por isso reformado, mas mantido a fogo brando, tolerado e acalentado pelos seus algozes, sendo preservado para alguma oportunidade futura. Quem sabe?

O fato é que nos primeiros momentos a passividade das forças de segurança foi total e mesmo de colaboração e simpatia para com os vândalos. Só depois da decretação da intervenção federal pelo presidente Lula, da destituição do comandante da polícia do DF e da nomeação do interventor na segurança, as forças policiais moveram-se e conseguiram debelar o motim, mas sem nenhuma colaboração do exército.

Agora a investigação avança sobre os financiadores, mandantes e inspiradores da ação entre os quais se encontram certamente, políticos, empresários, líderes religiosos, ou seja, homens “do bem”, para não falar de filhos, esposas e parentes de militares igualmente “gente de bem”. Mesmo depois da determinação do ministro Alexandre de Morais, para o desmonte de todos os acampamentos de baderneiros em frente aos quarteis, em Brasília, o exército impediu, por algum tempo, a polícia do DF de cumprir a determinação judicial. Quem sabe, se não foi para dar tempo de fuga aos “cidadãos de bem” bombistas, foragidos da justiça, usuários de tornozeleiras eletrônicas etc.

Uma coisa é certa: até agora, entre os detidos não apareceram os fardados graduados. Quem vai responder o que estavam fazendo os dois batalhões do exército sediados no subsolo do palácio do planalto para defender os poderes da república? Quem são os comandantes do Regimento de Cavalaria da Guarda e do Batalhão da Guarda Presidencial? Por que não se moveram? Quem os comandava?

Na verdade, o partido do exército mostrou sua força. Continuamos a viver sob a tutela militar que existe desde o início da república e que a sociedade civil ainda não se atreveu a abolir. Na conjuntura atual, nunca as condições internacionais foram tão propícias. Internamente, as condições são igualmente favoráveis. Há provas evidentes da corrupção e dos desmandos da caserna que, vergonhosamente, se deixou dirigir por um capitão que ela própria excluiu por incompatibilidade com seus princípios. Que vergonha!

Mas, a violência dos bolsominions ultrapassou os limites da praça dos três poderes e ocorreu em outras áreas. Foram praticados atos de terrorismo clássicos como o bloqueio de refinarias e aeroportos e sabotagem derrubando torres de transmissão de energia. A extensão dos atos fica mais evidente com a descoberta da minuta do decreto do golpe, criando uma comissão composta, em sua maioria, por militares e pessoas do governo, para julgar a validade das eleições e estabelecendo uma intervenção no Tribunal Superior Eleitoral. Esta minuta foi encontrada pela Polícia Federam na casa do ex-secretário e ex-ministro Anderson Torres. Tornou-se mais visível a extensão e ambição do plano. Há muito a investigar. Como bem disse o ex-secretário geral da Unctad Rubem Ricúpero “Atrás disso tem uma inteligência estratégica”. “Nenhuma bomba explode sem estopim”.

Na economia também as coisas voltam à normalidade. Como vinhamos falando a recuperação continua a arrastar-se dificultada pela política econômica do governo anterior e com a colaboração do Banco Central (BC) com sua insensata elevação da taxa de referência Selic. No exterior, enquanto se desenrola o Fórum de Davos na Suíça, a diretora geral do FMI Kristalina Georgieva anuncia uma recessão mundial para este ano e o crescimento de 0.5% para os países avançados. Como complemento, o Banco Mundial publica o seu “Perspectivas Econômicas Globais 2023” onde aponta a possibilidade de mais uma década perdida tendo como causas a pandemia, a guerra na Ucrânia, a elevação dos preços dos alimentos e da energia, a inflação, o aperto monetário provocado pelos BCs. Conclui afirmando que a economia mundial “está por um fio”.

O próprio Fórum Mundial publicou seu “Relatório de Riscos Mundiais”, resultado de uma pesquisa efetuada. Neste relatório o Fórum aponta preocupações com as turbulências provocadas pela crise da energia, inflação, alimentação e segurança.

Neste 2023 há muitas dificuldades a vencer de ordem política, social e econômica. Não será um ano fácil para o governo Lula e os inimigos não terão nenhuma tolerância. É bom que todos se preparem para enfrentar difíceis situações e todo tipo de sabotagens.