Bolívia: lições de um golpe

Lúcio Flávio Vasconcelos

A imagem diz muito e serve como advertência. A mulher que aparece presa é Jeanine Áñez, ex-presidenta da Bolívia. Ela é acusada de ter participado do golpe de Estado que derrubou o presidente Evo Morales em novembro de 2019. Além dela, também foi decretada a prisão de vários militares que participaram da sedição.

A Bolívia tem cerca de 10 milhões de habitantes. A maioria da população é formada por ameríndios e mestiços. Herdeiros de diversas culturas indígenas, os bolivianos foram, ao longo da sua história, explorados violentamente por uma oligarquia branca, herdeira dos espanhóis conquistadores.

A trajetória política do país sempre foi turbulenta. Para termos uma ideia, entre 1899 e 1980, a Bolívia sofreu 14 golpes de Estado. Isso mesmo! Foram 14 derrubadas de governos. Muitos desses liderados por generais que haviam dado golpes em outros generais.

Em 2006, pela primeira vez em sua história, um líder sindical ganhou a eleição para presidente do país. Evo Morales, um mestiço dirigente dos “cocaleros”, indígenas que sobrevivem legalmente do plantio da folha da coca, foi eleito com grande apoio popular.

Reeleito sucessivas vezes, Evo Morales deu vez e voz aos indígenas do seu país. Enquanto esteve no poder, a Bolívia cresceu economicamente e milhões de bolivianos saíram da miséria. A elite branca nunca tolerou a ascensão de um líder mestiço à presidência. O ódio a Evo Morales culminou no golpe de 2019.

Novos tempos na América Latina. Parece que as coisas estão mudando ao sul do Equador. Generais e políticos presos pela justiça por participarem de uma sedição parecia coisa impossível no nosso continente. Que os antidemocráticos que sonham e lutam por um golpe de Estado no Brasil fiquem atentos: podem terminar numa longa temporada na cadeia.