Bolsonaro e as baionetas

Lúcio Flávio Vasconcelos –

“Você pode fazer tudo com as baionetas, menos sentar-se sobre elas”. Esta frase, atribuída ao general Napoleão Bonaparte, resume muito bem a crise institucional criada pelo presidente Jair Bolsonaro.

Militar medíocre no curto período em que esteve na caserna e ignorante dos fatos mais relevantes da política nacional, Bolsonaro desconhece o papel interventor que os militares brasileiros sempre desempenharam na política brasileira.

Foi o exército brasileiro que derrubou a monarquia e inaugurou a era dos golpes militares no país. O marechal Deodoro da Fonseca, mesmo com febre, montou no seu cavalo, reuniu a tropa e proclamou a república. O “povo”, nas palavras imortais do jornalista Aristides Lobo, “assistiu a tudo bestializado”.

No século XX, os golpes militares se sucederam no Brasil. Em 1930, os generais depuseram o presidente Washington Luís. Em 1937, eles ajudaram a implantar o Estado Novo getulista. Em 1945, enxotaram Getúlio Vargas do Palácio do Catete. Em 1964, derrubaram João Goulart e estabeleceram uma ditadura militar de longa duração.

Bolsonaro dorme e acorda com a ideia fixa de estabelecer um regime autoritário no Brasil. Mas esqueceu de combinar com os militares. Acossado pela crise econômica, irresponsável diante da pandemia, abandonado por parte dos empresários, encurralado pelas raposas do Centrão, seu errático governo subiu no telhado.

Em atitude desesperada, o presidente trocou a cúpula militar com o objetivo de garantir uma saída autoritária, caso o processo de impeachment ganhe força. Mas ele esqueceu o principal.
Sem os militares de alta patente, da ativa, que ficaram extremamente insatisfeitos com a “degola” dos seus respectivos comandantes, o tão sonhado golpe pode virar um profundo pesadelo. General na reserva tem prestígio e medalhas, mas não tem tropa para comandar.

As tão exaltadas baionetas por Bolsonaro podem lhe causar profundos ferimentos.