Bolsonaro: Vexame internacional

O Brasil tem o privilégio de abrir, todos os anos, os trabalhos da Assembleia Geral Organização das Nações Unidas (ONU). Essa prerrogativa começou em 1947, quando foi instalada a entidade internacional. De lá pra cada, muitos presidentes se revezaram na tribuna, exaltando seus feitos e ocultando os defeitos. Mas Bolsonaro, no seu pronunciamento, se superou em mentiras.

Bolsonaro chegou ao poder baseado nas famigeradas fake news, seguindo o exemplo do seu ídolo, Donald Trump. Ao longo do seu governo, ele continuou fazendo das inverdades sua lógica de gestão. Disse que as vacinas não serviam para combater a pandemia, defendeu a cloroquina como tratamento precoce e que a Covid-19 era apenas uma “gripezinha.” Para citarmos em alguns exemplos. É seu modus operandi.

Diante da ONU e com transmissão para todo o planeta Terra, Bolsonaro fez o pior discurso de todos os tempos. Com voz monocórdia, como se estivesse no quartel dando instrução para recrutas, desfilou um rosário de absurdos. Foram 12 minutos que envergonharam o Brasil perante o mundo. Segue abaixo as mentiras mais escabrosas.

Primeiro falou: “Estamos há dois anos e oito meses sem qualquer caso concreto de corrupção”. Bolsonaro se esqueceu de mencionar o esquema de “rachadinhas” que envolve os seus filhos; o caso Queiróz; o filho Renan que ganhou um carro por fazer lobby; o ex-ministro Ricardo Salles denunciado por proteger madeireiros e o mega escândalo envolvendo a compra da vacina Covaxin.

Mais na frente, o presidente faltou com a verdade novamente. Disse ele: “Na Amazônia, tivemos uma redução de 32% no desmatamento no mês de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior.” De acordo com a plataforma Imazon, que monitora a floresta amazônica, houve aumento de 7% no período mencionado. É o mês de maior desmatamento na Amazônia desde 2012.

Adiante, Bolsonaro afirmou: “Sempre defendi combater o vírus e o desemprego de forma simultânea.” Por sua postura negacionista com relação à vacinação, atraso na compra dos imunizantes, seu comportamento contra as medidas de distanciamento social ao promover aglomerações sem usar máscara, defesa da imunidade de rebanho, Bolsonaro é o responsável direto por milhares de mortos, principalmente por ter ajudado a propagar o vírus na população.

Por fim, Bolsonaro cometeu mais uma falsidade. “No último dia 7 de setembro, milhões de brasileiros foram às ruas (…) na maior manifestação de nossa história.” Por ignorância, Bolsonaro não falou que foi no fatídico 13 de março de 2016, dia em que , de acordo com o jornal Folha de S. Paulo, mais de 3,5 milhões de pessoas saíram às ruas para protestar contra Dilma Rousseff. Naquele dia, ocorreu o maior protesto político no país, abrindo espaço para o pesadelo cotidiano em que estamos mergulhados.

Bolsonaro está em plena campanha eleitoral. Discursou na ONU como se estivesse falando para seus apoiadores, naquele deprimente cercadinho em frente ao Palácio do Planalto. Pelo andar da carruagem, no próximo ano, quando ele voltar mais uma vez a ocupar a tribuna da ONU, a cena será mais vexatória, com um presidente em fim de mandato, isolado do mundo, acossado por uma crise política e econômica avassaladora, prestes a perder seu mandato.