Carlos Marighella: o poeta armado

Carlos Marighella viveu e morreu por um ideal. Lutou pela liberdade, pelo socialismo, pelo fim do domínio imperialista norte-americano e contra duas ditaduras: a getulista e a militar. Era um homem de carne e osso, como todos nós. Mas com um desejo profundo de mudar o mundo, como poucos. Por isso foi baleado, preso, torturado. Mesmo assim, continuou acreditando que poderia mudar o mundo.

Marighella nasceu em Salvador, em 1911. Filho de Augusto Marighella, italiano e ex-motorista de caminhão de lixo, e Maria Rita de Nascimento, baiana e ex-empregada doméstica, filha de uma escrava. Teve uma infância humilde. No entanto, feliz. Era o primogênito de 7 filhos. Marighella era apaixonado por samba, futebol, carnaval e poesia. Foi o único da família a ingressar numa faculdade. Começou o curso de engenharia civil, mas o abandonou para participar, em tempo integral, da luta política.

Foi preso pela primeira vez em 1932, por ter escrito um poema criticando o interventor da Bahia Juracy Magalhães. Em 1936, já no Rio de Janeiro, foi encarcerado mais uma vez, acusado de subversão contra o governo de Getúlio Vargas.

Só saiu da cadeia em 1945, com o fim do Estado Novo. Trazia no corpo e na alma as marcas da tortura que sofrera. Isso o tornara mais forte e muito mais decidido em continuar lutando pelo que acreditava. Aclamado como um herói pelo povo da Bahia, Marighella foi eleito deputado federal constituinte, junto com Jorge Amado.

Com o golpe civil-militar de 1964, Marighella caiu na clandestinidade. Foi localizado e baleado pela Polícia. Preso, foi novamente seviciado. Saiu da prisão no ano seguinte. Inspirado na Revolução Cubana, ele rompeu com o PCB e organizou a ALN (Aliança Libertadora Nacional), grupo guerrilheiro para lutar contra a ditadura. No dia 4 de novembro de 1969, Marighella foi morto pelos órgãos da repressão.

Durante sua intensa vida, Marighella foi poeta, jornalista, professor, escritor, revolucionário e guerrilheiro. Seus textos poéticos estão reunidos no livro “Poemas: rondó da liberdade”, publicado em 1994, pela editora brasiliense. Seu Manual da Guerrilha urbana foi editado em diversas línguas por muitos países. Marighella está ao lado de Che Guevara no panteão dos revolucionários do século XX.

Mas, acima de tudo, Marighella foi um sonhador. Idealizou e lutou por um mundo melhor, mais justo e igualitário. Ele agiu da mesma forma que todos os revolucionários que transformaram a história agiram.

Marighella peleou como Zumbi dos Palmares, Tiradentes, Frei Caneca, Peregrino de Carvalho, Pedro Teixeira, Negro Fuba, Lamarca e muitos outros brasileiros que deram sua vida em sacrifício por um país melhor. Todos eles foram perseguidos em suas épocas. As elites dominantes, de ontem e de hoje, nunca aceitaram os contestadores. Massacraram todos aqueles que ousaram desafiar seu poder.

Os tempos são outros. Mesmo assim, não podemos esquecer: Carlos Marighella fez história com poesia e armas. Sem ele, sem sua utopia, o Brasil de hoje seria muito pior.

Confinado na ilha de Fernando de Noronha, em 1939, Marighella escreveu o seu mais famoso poema: Liberdade.

“(…) Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma, que não exista força humana alguma que esta paixão embriagadora dome. E que eu por ti, se torturado for, possa feliz, indiferente à dor, morrer sorrindo a murmurar teu nome. (…)”