Delenda Moscou

Nada mais apropriado para o momento do que a famosa frase do senador romano Marcio Porcio Catão que terminava seus discursos com a expressão “delenda est Cartago”. Cartago deve ser destruída. E efetivamente isto foi conseguido à custa de violência e traições. Entre os anos 264 e 146 antes de Cristo, as guerras púnicas tiveram este resultado. A cidade de Cartago foi totalmente destruída não restando pedra sobre pedra.

Agora assistimos a uma histeria nunca vista, nem mesmo nos tempos do comunismo e da guerra fria, a partir dos Estados Unidos, mobilizando todo o ocidente para a santa cruzada contra a Rússia. É a luta do “mundo livre” contra a despótica Rússia (igualmente capitalista). Além de toda a mobilização feita na UE e na NATO, o assunto foi levado para o Fórum de Davos na Suíça, e ocupou o centro dos debates. Já discursaram o ator Zelensky, representando o papel de presidente da Ucrânia e o diretor geral da OTAN, Jens Stoltenberg representando o militarismo ocidental. Estão presentes 300 chefes de estado e 1.250 empresários. Claro que não estão participando a Rússia, não convidada, e a China, que se recusou a ir.

Além da destruição da Rússia, considerada a besta do apocalipse, discute-se a crise mundial e o perigo da estagflação e da fome. Com sua fúria anti-russa os americanos esqueceram que seu verdadeiro inimigo é a China, como diz William Burns, diretor da Cia. Mas o ocidente esqueceu outras lições da história. A Rússia em outros tempos já repeliu várias tentativas de invasão. Napoleão Bonaparte com seu exército internacional lá encontrou a derrota. Na primeira guerra mundial e na invasão que a ela se sucedeu para sufocar a jovem revolução socialista, o ocidente também encontrou a morte. Hitler voltou a tentar esmagar o comunismo e seu exército internacional igualmente sucumbiu mudando o curso da história. A Rússia tem sido o cemitério dos grandes generais. Será que isto é que está atravessado na garganta do ocidente? Pensa o caquético Biden junto com os decrépitos militaristas europeus reunidos na OTAN e aliados ao lixo nazi espalhado nos rincões da Europa que é chegada a hora da vingança? Não percebem que isto poderá levar a humanidade ao holocausto nuclear? Esta é a verdadeira besta do apocalipse que precisa ser detida a todo custo.

Voltando ao Brasil, em Davos estivemos bem representados pelos sinistros Guedes, da Economia e Marcelo Queiroga, da Saúde. O presidente não se atreveu a ir. A posição do Brasil em relação à Rússia é delicada pois ela é o quinto maior exportador de produtos para o Brasil e responsável por 70% dos fertilizantes que consumimos. As exportações russas cresceram 89% de janeiro a abril.

Preocupado com seu isolamento, os EUA fizeram várias tentativas para contornar esta situação. Aproveitando seu deslocamento ao oriente, Biden realizou várias visitas a países da Asia como Japão, Coreia do Sul além de participar de reunião da Asean, organização de onde os EUA haviam sido retirados pelo governo de Trump. Aí ele tentou negociar acordos que infelizmente não agradaram os parceiros pois restringiam-se a apoio militar e não econômico. Outra iniciativa está sendo tentada para salvar a Cúpula das Américas, ameaçada de fracasso, com a ameaça de boicote do México, Peru e Bolívia, caso os americanos não revisem as restrições a Cuba e Venezuela e Nicarágua. A pressão já deu resultados pois já foram removidas algumas restrições à Venezuela e a Cuba. 

A ameaça de fome levou os países do G7 a discutir um plano de emergência. Foi constatado que 23 países já tomaram medidas restritivas para a exportações de produtos agrícolas, entre eles a Índia e o Egito com o trigo. Como os dois outros maiores produtores, Rússia e Ucrânia, que respondem por 27% do abastecimento, estão impossibilitados, a situação torna-se muito grave. O Banco da Inglaterra (BoE) preocupa-se com os preços apocalípticos dos alimentos e começaram os apelos para que a Rússia abra corredores no mar Negro para escoamento do trigo da Ucrânia, já respondidos pelos russos: depois de retirarem as restrições impostas pelos ocidentais. 

Este é o panorama mundial. Tudo caminha loucamente para a crise, a fome, a estagflação e a guerra. Escaparemos do apocalipse?

No Brasil, desanimado e irritado com seu isolamento, Bolsonaro resolve disputar as eleições mesmo continuando a preparar o golpe, que não conta com grandes apoios internacionais. Mas, então vale tudo. Todos os métodos da velha política que ele tão bem praticou na sua passagem como deputado do baixo clero, até os métodos das velhas raposas do centrão agora aderentes aos seus planos. As perspectivas econômicas não são boas. O PIB deste ano não terá crescimento de 2,1%, como foi estimado, mas de 1,8%. O desemprego, em março, continua em 11,1%, e a inflação subiu de 4,7% para 6,5%. Para o ano a previsão é de 7,9% quando a meta é de 3,5%. Pelo segundo ano o Banco Central não consegue cumprir a meta. No desespero o governo tenta de todos os modos conter a elevação dos preços. A Petrobras é apontada como culpada pelos combustíveis, o que tem levado à demissão sucessiva dos presidentes e até do ministro das Minas e Energia. A Eletrobras é a culpada pelos preços da energia. A aprovação da privatização feita às pressas, incluiu jabutis impostos pelo Centrão que agora se mostram irrealizáveis. Onde conseguir o dinheiro para a construção dos gasodutos que levarão gás para as termelétricas a serem instaladas? Ninguém sabe como conter os preços dos combustíveis e da energia. As soluções propostas só servem para empurrar com a barriga o problema para depois das eleições. É o vale tudo. A bomba vai estourar nas mãos do ganhador. Mesmo com a possibilidade de ter uma bomba nas mãos Bolsonaro topa qualquer coisa para ganhar. Está jogando pedra na lua.

Na dúvida, continua preparando o golpe não se cansando de afirmar que é o comandante em chefe das Forças Armadas. Enquanto isto, os políticos corruptos não entendem a gravidade da opção que se coloca hoje entre democracia e ditadura. Continuam enganando o povo e fazendo o jogo da velha política enquanto caminham para o precipício. O reacionarismo dos capitalistas, o conservadorismo dos militares e a corrupção e irresponsabilidade dos políticos ameaçam o futuro da nossa débil democracia.

A possibilidade do golpe torna-se cada vez mais evidente. Urge arregimentar forças para detê-lo.