Diáspora brasileira

Lenilda dos Santos tinha 49 anos e duas filhas. Era enfermagem por vocação. Seu desejo, ter uma vida melhor nos Estados Unidos. Na madrugada do dia 5 de setembro, Lenilda e mais três amigos começaram uma jornada cansativa e perigosa.

Guiada por um coiote, nome dado aos mexicanos que conduzem imigrantes ilegais na difícil travessia entre o México e os Estados Unidos, Lenilda passou mal e foi abandonada pelo grupo em meio ao deserto do Novo México, estado norte-americano.

Sua última mensagem ainda tinha o tom da esperança. “Eu dormi aqui, eu não aguentei, eu tô sozinha. Mas eles estão vindo me buscar. Eu tô chegando, falta um pouquinho só para eu chegar. Eu não aguentei.”

Lenilda não chegou. Ninguém retornou para salvá-la. Seu corpo só foi encontrado pela polícia de fronteira norte-americana, 8 dias depois do seu último contato. Ela havia Rastejado sob um sol escaldante até morrer de calor, de fome e de sede.

O drama social que levou Lenilda à morte aflige milhões de brasileiros. A crise econômica, a violência, o desemprego, o desalento, a corrupção e a falta de perspectivas fazem com que, todos os anos, milhares de brasileiros partam para uma aventura arriscada: tentar ingressar nos Estados Unidos da América.

De acordo com o órgão de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos, o número de brasileiros tentando entrar ilegalmente pela fronteira sul da América do Norte bateu novo recorde: de outubro de 2020 a agosto de 2021, 46.410 brasileiros foram detidos, seis vezes mais do que no mesmo período do ano anterior.

Todos nós temos um parente, amigo ou conhecido que já mora no exterior. A maioria deles foi por não suportar mais as condições oferecidas pelo país. Eles se submetem a qualquer trabalho para sobreviver. Sentem uma saudade imensa do Brasil, mas não querem voltar. O medo e a insegurança são os principais motivos para permanecerem longe dos seus parentes, dos seus amigos, da sua terra.

Partir do seu país de origem não é exclusividade do Brasil. Emigrar é um fenômeno milenar. Não é sinal de covardia, nem de abandono. A grande maioria deles desejaria permanecer na sua terra, desde que fossem oferecidas as mínimas condições de permanência.

Pelo que está ocorrendo no Brasil nos últimos anos, cada vez mais brasileiros irão querer sair do país. Tentarão a vida em outras plagas. Muitos serão clandestinos, considerados de segunda categoria. Sofrerão preconceitos. Trabalharão exaustivamente para ter uma vida melhor, com a esperança de que seu destino não seja o mesmo da enfermeira Lenilda dos Santos.