Elas chegaram: recessão com inflação = estagflação 

No artigo de 15 dias atrás apresentamos alguns dados considerados indicadores antecedentes calculados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-Agro) e pelo Banco Central (IBC-Br) que mostravam o estado da economia. Falamos também das opiniões do economista Affonso Celso Pastore, citado agora como conselheiro do futuro candidato a presidência da república Sergio Moro, sobre a iminência da estagflação que ele chamava de “coisa dramática”.

Pois estamos assistindo a “coisa dramática” anunciada por ele: “subida da taxa de juros com economia encolhendo”. O espetáculo provoca os lamentos de todos os economistas oficiais neoclássicos (incluindo o próprio Pastore), que apoiam a ação do BC de subir os juros para conter a inflação, a única receita que eles conhecem.

Mas o que há de absurdo no fenômeno observado? O que há de estranho não é a inflação fenômeno muito conhecido, mas a inflação com estagnação que caracteriza o que se chama estagflação.

Segundo a ideologia dos economistas neoclássicos que formam a equipe econômica sob o comando do sinistro Paulo Guedes, a inflação é provocada pelo excesso de procura. Como a procura é muito elevada, é muito maior que a oferta, os preços dos produtos sobem. A única maneira de deter o processo é criar dificuldades para o consumo das pessoas e empresas. Como o Banco Central tem como função primeira gerir a moeda, ele deve utilizar instrumentos de política monetária para agir. No caso, este instrumento é fundamentalmente a manipulação das taxas de juros. Ora, taxas de juros elevadas, ao dificultar o crédito para compradores e vendedores, reprimem os negócios tanto pelo lado de quem compra como de quem vende. Segundo esta teoria, a inflação existe porque as pessoas estão comprando muito, consumindo muito, esbanjando dinheiro. Mas este não é o caso da estagflação. Neste caso as pessoas não compram, os negócios diminuem, as empresas não produzem pois não tem a quem vender, a economia entra em crise, fica estagnada.

É isto que a realidade está mostrando.

Com efeito, nós já estávamos identificando o surgimento da estagflação há mais de 4 meses. Agora todos admitem o fenômeno que julgavam ultrapassado.

Mas, vamos aos dados. O leitor nos perdoe pelo aborrecimento. Os indicadores antecedentes do Banco Central (IBC-Br) e do Centro de Estudos em Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Agro) o PIMAgro, que apresentamos na Análise passada, mostraram-se confiáveis e precisos. Agora, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os números que mostram a realidade 

Segundo estas estatísticas, no terceiro trimestre do ano, em relação ao segundo trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) (soma de todas as riquezas produzidas no país pela indústria, agricultura e serviços) sofreu uma queda de -0,1%. Como no segundo trimestre o PIB já havia caído -0,4%, em relação ao primeiro, configurou-se o que eles definiram como “recessão técnica”, (a queda do PIB por dois trimestres seguidos). O sinistro da economia, Paulo Guedes, está metido em uma saia justa. A sua recuperação em V configura-se como um voo de galinha. Mas ainda não foi o bastante para ele calar o bico. Como bom falastrão ele já saiu por aí afirmando que “A arrecadação está muito forte o que mostra que o Brasil está decolando de novo”. Além disso chamou de “conversa de maluco” as previsões de baixo crescimento feitas pelas consultorias e economistas. O ministério da economia continua mantendo sua previsão de crescimento de 5,1% para 2021 e de 2,1% para 2022 (segundo o Boletim Focus do BC 4,7% e 0,5%). 

Mas há ainda outras estatísticas negativos. A agropecuária, que tem sido o carro chefe do crescimento, teve uma queda de -8%. A indústria de transformação caiu -0,7%. A indústria extrativa -0,4%, os investimentos -0,1%, mas o consumo aparente de máquinas e equipamentos caiu -2,6%. Os analistas apontam como possíveis causas a escassez de insumos, a inflação, a elevação dos juros, o mercado de trabalho fraco, as precariedades das vagas de emprego, os salários baixos, a pandemia, a fragilidade das contas públicas, a escassez hídrica os preços das commodities.

Este ambiente adverso provocou uma queda nas expectativas dos empresários. Sobre isto a FGV calcula 3 Índices: o Índice de Confiança Empresarial que caiu 3,3 pontos ficando em 97 pontos (abaixo de 100 indica desconfiança), o Índice de Situação Atual (ISA), com queda de 2,5 pontos e o Índice de Expectativas (IE) que caiu 4,5 pontos. 

Como este quadro tende a se manter não são boas as expectativas para o quarto trimestre e, portanto, para o ano de 2021.  O BC já divulgou que vai manter a elevação da taxa Selic mesmo sabendo que isto é mortal para a recuperação econômica, mas ele não conhece outra receita, pois não consta do seu manual de instruções O governo continua sua louca política de criar entraves para a batalha contra o corona vírus, que nos ameaça com a nova mutação Ômicron, tendo o apoio do incompetente bolsominion ministro da saúde. 

As últimas pesquisas têm mostrado a queda na avaliação do governo o que está levando Bolsonaro ao desespero. Ninguém pode prever o que o louco poderá fazer se encurralado. Temos dito aqui que ele é capaz de jogar pedra na lua. A degradação do ambiente econômico agrava muito a situação. 

A recessão técnica chegou e com a inflação. Temos assim a tão temida estagflação para a qual nenhuma receita consta no manual dos neoclássicos. Coitado do Guedes!

As perspectivas para 2022 não são das melhores, infelizmente.