Entre Deus e o diabo
Parece que voltamos ao período colonial da nossa história. Época em que o temor do demônio atazanava a população. As doenças, as pragas e os desastres climáticos eram atribuídos aos pecados e ações divinas punitivas. Para os padres, Deus e o diabo disputavam corações e mentes dos comuns mortais em terras tropicais.
Em pleno século XXI, Bolsonaro (PL) e seus asseclas querem retomar a guerra santa contra os supostos “infiéis”. Para tanto, encaram como inimigos todos aqueles que não concordam com suas posições ultraconservadoras e que optaram por apoiar Lula (PT) para presidente.
Clamando ter a missão de “salvar o país” das forças demoníacas, afirma que foi ele, Bolsonaro, o escolhido por Deus para continuar no poder. É a reedição nefasta da famosa frase em latim Rex Dei Gratia (rei pela graça de Deus), que respaldou o poder dos monarcas despóticos na Europa e justificou todas as atrocidades contra judeus, islâmicos, indígenas e camponeses.
A religiosidade cristã é algo profundo em nossa cultura. Foi trazida pelos conquistadores portugueses e imposta a ferro e fogo aos povos indígenas, acusados de pagãos e seguidores de Belzebu. Não é à toa que, de acordo com pesquisa do Datafolha, publicada em 13 de janeiro de 2020, 81% da população brasileira se declara cristã.
Não se deve esquecer que o Estado brasileiro é laico e a religião pertence a esfera privada. A Constituição brasileira assegura a liberdade religiosa e não admite preconceito, violência ou discriminação contra qualquer expressão religiosa.
Ao mesmo tempo, no artigo 19 da Constituição, veda aos governos federal, estaduais e municipais “estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou alianças”.
Bolsonaro ultrapassou a fronteira do Estado laico em seus apelos desesperados à reeleição. Seu lema “Deus, Pátria e Família”, o mesmo do Integralismo, já diz muito. Além disso, a aliança estratégica com alguns bispos evangélicos demonstram grande grau de desrespeito à Constituição Federal.
Caberá aos eleitores – religiosos ou não -, decidirem entre os presidenciáveis quem será o melhor para governar o país nos próximos 4 anos. Lembrando que a escolha não recai entre Deus e o diabo, e sim sobre comuns mortais.
É sempre bom recordar aos cristãos o 7º mandamento contido na Bíblia: “Não tomarás em vão o nome do Senhor, o teu Deus, pois o Senhor não deixará impune quem tomar o seu nome em vão.” Amém!