Entrevista: ‘As interferências da religião no campo político’

No dia 01 de setembro eu participei de um podcast da rádio Tabajara chamado ‘Redação Tabajara’, destinado a abordar de maneira mais aprofundada e fora do lugar comum assuntos de interesse local e nacional, com periodicidade semanal. Essa semana vou trazer a íntegra da entrevista para nós refletirmos sobre as interferências da religião no campo político, que são muitas e, algumas vezes, extremamente nocivas.

Apresentador: O pesquisador Ronaldo Bressane, afirma que “política e religião sempre andaram juntos”. A senhora concorda?

Regina: A política se faz no coletivo sociocultural que nos forja enquanto ser humano. Para Durkheim (1996), a religião possui uma dimensão social e sistemática, e o homem é formado pela soma do ser individual e do ser social, de forma que, na medida em que participa da sociedade, o indivíduo naturalmente ultrapassa a si mesmo, portanto, a política permeia as relações sociais e culturais, logo, há uma fronteira que se cruza entre política e religião. A religião uma partilha de crenças comunitárias que permeia nossa existência coletiva assim como a política que nos norteia na sociedade, na coletividade, por isso é importante não escantear a religião ou a religiosidade dentro da estrutura social, pois quando se desprezam os elementos que forjam culturalmente uma sociedade, como política e religião, estes podem crescer na sombra da nossa ignorância e nos devorar.

Apresentador: Tudo bem misturar política e religião?

Regina: Elas sempre estiveram misturadas. O grande problema é quando a religião interfere politicamente na sociedade e busca sustentar seus dogmas para direcionar o caminho pelo qual as pessoas devem seguir, tolhendo o livre-arbítrio, o direito de escolha de cada um através da imposição da fé propagada por ela.

Apresentador: O que você acha do ensino religioso nas escolas? Nos moldes de currículo escolar de hoje, ele funciona?

Regina: Eu acho que o grande problema começa com a terminologia “ensino religioso”. A gente tem que estudar a religião dentro dos aspectos históricos, culturais e filosóficos, ou seja, em uma abordagem científica. A gente teve avanços, mas é importante destacar que o ensino deve ser não confessional para quebrar paradigmas e barreiras de intolerância, não para criá-las.

Apresentador: Podemos afirmar que vivemos num estado laico?

Regina: Estado laico ou secularizado é um conceito onde o poder do Estado é oficialmente imparcial em relação às questões religiosas, não apoiando nem se opondo a nenhuma religião, mas não é o que vemos no nosso dia-dia. Os aspectos do cristianismo ainda estão dentro das instituições do Estado. Quem nunca entrou num órgão publico e deu de cara com um crucifixo ou um outro símbolo religiosos no ambiente? Isso fere o estado laico. Então, constitucionalmente, somos um país laico, ou seja, na teoria somos, mas na prática não.

Apresentador: Muitos políticos são eleitos usando discursos religiosos. Isso pode abalar ainda mais o estado laico?

Regina: Precisamos enxergar a religião e os mitos religiosos que buscam a conformação social como forma de direcionamento segundo seus objetivos. Subestimar as Religiões ou o seu poder de aglutinação e de força para mudar paradigmas e moldar socialmente o coletivo é subestimar seu poder político de moldagem social.

A íntegra do podcast, que conta com a participação de Saulo Gimenez, pesquisador e coordenador do Fórum de Diversidade Religiosa da Paraíba, e Fábio Nobre, Professor da Universidade Estadual da Paraíba e coordenador do Centro de Estudos em Política, Relações Internacionais e Religião, está disponível aqui.