Históricas, não histéricas!

Senadoras discutem participação de mulheres na CPI; Ciro Nogueira debate com Simone Tebet (de pé), Soraya Thronicke (ao lado) e Eliziane Gama (na ponta) – Jefferson Rudy/Agência Senado

De tempos em tempos são formadas CPI’s que entram para história do país. De cunho persecutório, ou seja, na busca da verdade dos fatos, as comissões são formadas para que, ao final, seja gerado um relatório e encaminhado para outros órgão competentes, seguindo então para julgamento e penalização, a depender do caso. Quem nunca ouviu que CPI acaba em pizza? Isso acontece porque a Comissão formada não possui caráter punitivo, mas inquisitivo, onde o sujeito sob investigação limita-se a responder o que lhe for perguntado.

As CPI’s surgiram como uma forma independente de investigação dos problemas da nação. A ideia é que a investigação e análise feita por um Parlamento apresente perspectiva plural, tendo em vista a composição do Poder legislativo e sua diversidade formada pelos mais variados interesses da sociedade, em especial, na representatividade de gênero.

E sobre isso, vamos iniciar nossa “Prosa Legal” desta semana: representatividade. A CPI em andamento no Senado Federal contou com ZERO de representatividade feminina em seu colegiado. Para garantir a participação, as Senadoras revezaram suas falas com o Senadores em condições distantes de serem paritárias!

Todavia, não silenciaram. Em que pese as tempestades causadas pelos Senadores a cada fala feminina antecedida por uma das mãos erguidas, sinalizando a necessidade de alguma colocação. E cada voz de uma mulher que se colocava imposta ao som do microfone, na minúscula sala onde ocorre as oitivas, era formado um coágulo no cérebro dos Senadores que impedia a circulação do sangue pela veia estreita da lucidez, ameaçando infartar, quando como loucos e indignados, demonstravam clara impaciência em ouvir “mulher falar”.

É que para eles, mulher fala demais. E pode até ser isso mesmo. Porque foram anos de silêncio. E quando falam que não há machismo, são eles próprios que, em um processo inconstitucional, produzem provas contra si mesmos. 

Esgotadas as vias de argumento, sacam do bolso a repetida e tão usual frase: “Calma, Doutora! Vossa Excelência está nervosa!” Já notaram isso? Nervosa, desequilibrada, em TPM, recorrentes! Eles batem na mesa, falam alto, e é apenas testosterona! As mulheres, quando mais assertivas, são estressadas. Na realidade, eles sabem bem que somos sobrecarregadas, e não imaginam como equilibramos tudo isso daí, logo concluem que só pode ser “estresse”.

Na CPI da COVID, cada fala feminina, um corte. Cada pedido de apresentação de algum elemento de possível prova, indeferimento. Cada “pela ordem”, um “ Vossa Excelência já falou o suficiente!” E assim,  de Vossas Excelências para Vossas Excelências, o fio de tensão é esticado. Impressionante como todos os presentes assistem o show de horrores e é instalado um medo inexplicável da voz feminina. Presença notoriamente não bem-vinda. Por que, hein? 

Por que esse comportamento incansável de tonificar o esteriótipo da “louca histérica” todas as vezes que uma mulher expõe seus argumentos, sua opinião, sua representatividade? Porque a ideia é tentar desconstruir ou mesmo desqualificar essa representatividade. Enfraquecer, descredibilizar!

Mas no caso das Senadoras, ela protagonizaram a cena, ainda que tenha sido com uma pequena participação. Pequena no tempo de fala, mas gigante na resistência e no enfrentamento à postura agressiva e machista de seus pares, ali, representados pelo gênero masculino. É que mulher, ainda que em silêncio, sabe gritar! Seguem os trabalhos!