Integralismo e bolsonarismo

O bolsonarismo conquistou corações e mentes de milhões de brasileiros. O fenômeno político bolsonarista é recente, mas tem profundas raízes históricas. Ele possui origem em grupos de extrema-direita que, de tempos em tempos, ressurgem para questionar a democracia e apresentar uma proposta autoritária de Estado.

Para compreender o presente político é necessário entender o passado histórico. E o bolsonarismo, mesmo com especificidades do século XXI, tem como referência principal o Integralismo, movimento político de extrema-direita do início do século XX. O Integralismo tinha como lema as mesmas palavras repedidas exaustivamente por Bolsonaro: Deus, Pátria e Família. Não é mera coincidência.

Esta tríade de palavras, tão em voga nos últimos anos, tem uma aguda carga emotiva e é extremamente mobilizadora, pois toca no âmago dos valores sociais mais atávicos do ser humano. Exalta a religiosidade, o patriotismo e os laços familiares, elementos comportamentais de sociabilidade.

Fundado em 1932 pelo deputado e jornalista Plínio Salgado, a Ação Integralista Brasileira foi inspirada no fascismo italiano. Com princípios anticomunista, antidemocrático, nacionalista e autoritário, o Integralismo chegou a ter um milhão de adeptos em todo país, tornando-se o maior movimento fascista fora da Europa entre as décadas de 1920 e 1940.

Assim como seus congêneres europeus, os integralistas acreditavam que só um líder personalista poderia “salvar a pátria”. Também professavam o discurso de ódio e defendiam o emprego da violência contra adversários políticos, considerados inimigos a serem eliminados.

Com seus uniformes verdes e estandartes ostentando o sigma, letra do alfabeto grego, os integralistas promoviam marchas pelo país em datas cívicas como o 7 de setembro e o 15 de novembro. Nesses eventos, defendiam o militarismo e condenavam a democracia. Para os militantes do integralismo, a única solução para o país era um regime autocrático.

Os integralistas tentaram assumir o poder através de um golpe de Estado. No madrugada de 11 de maio de 1938, invadiram o Palácio da Guanabara, sede do governo federal. O intuito era assassinar Getúlio Vargas. Eles foram rechaçados a tiros. O putch fracassou e os integralistas caíram no ostracismo. Após um mês de prisão, Plínio Salgado foi para o exílio em Portugal.

O integralismo acabou enquanto movimento político, mas o caldo cultural onde ele foi gerado continua fértil. O personalismo, o autoritarismo, a exclusão social, o nacionalismo exacerbado, o culto ao líder e o sentimento antidemocrático eram partes constitutivas do Integralismo. Esses mesmos elementos, inegavelmente, são os componentes fundamentais do bolsonarismo.