Lula e os ruralistas

Esqueçam o centrão, aquele conglomerado de partidos políticos de direita que sobrevivem de cargos governamentais e verbas ministeriais. Ele é só um instrumento. Quem manda mesmo no Congresso Nacional são as bancadas ruralista (300 deputados federais e 44 senadores), da bala (44 deputados federais e 2 senadores) e a evangélica (132 deputados federais e 14 senadores). As siglas do centrão são meros arranjos políticos para atuação dessas representações da elite do atraso no parlamento brasileiro.

Nesta semana, essas bancadas agiram fortemente para barrar a reforma ministerial que Lula havia apresentado no início do seu governo. Na contramão da pauta política que saiu vitoriosa das urnas em 2022, os representantes dos ruralistas e seus aliados esvaziaram os ministérios do Meio Ambiente e o dos Povos Originários.

O Brasil tem uma das maiores concentrações fundiárias do mundo. Desde o período colonial a terra passou a ser o bem maior da elite econômica que domina o país. A sistemática destruição da Mata Atlântica, do Cerrado e da Floresta Amazônica, para dar espaço à cultura da cana-de-açúcar, aos pastos e ao cultivo da soja, são exemplos eloquentes do poder dos latifundiários.

Não sejamos ingênuos. É inegável a importância da agricultura de exportação para a economia do país. Sem ela o governo não poderia bancar os programas sociais em vigência. Sem os dólares advindos do agronegócio a economia brasileira estaria entre as últimas do mundo.
Mas, por outro lado, é possível estabelecer uma economia de exportação com sustentabilidade, preservando o meio ambiente e promovendo a inclusão social, desde que a lógica da extração predatória seja abandonada, com investimento em tecnologia de ponta e diversificando os produtos a serem exportados.

O esvaziamento dos ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Originários não é definitivo. Ainda cabe veto do presidente da república. O desafio maior do governo Lula é se ele tem força e recursos de emenda para barrar os parlamentares que teimam em permanecer com a mentalidade do século XIX, guiados pelo desprezo aos índios, destruição completa das reservas florestais e lucro sem responsabilidade social.