Mauro não leu Malaparte
Ele está preso há mais de um mês no Batalhão da Polícia do Exército, em Brasília. Levanta-se logo nas primeiras horas da manhã. Para não perder a forma, mantém uma rotina diária de exercícios que remonta aos tempos da formação militar, quando era cadete da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), escola que forma os futuros oficiais do exército brasileiro.
O tenente-coronel Mauro Cid está encarcerado por vários motivos. Falsificou comprovantes de vacinação, inclusive de Jair Bolsonaro (PL) e sua filha menor de idade. Também tentou, por diversas vezes, liberar as joias apreendidas pela Receita Federal. Mas seu maior crime foi tramar contra a democracia.
As investigações da Polícia Federal revelam que Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, estava no epicentro da tramoia golpista. Os peritos da PF encontraram no celular dele uma minuta para a decretação de uma Garantia da Lei da Ordem (GLO), que permitiria acionar tropas militares contra o governo de Lula (PT). Para além da minuta golpista, também foram encontrados “estudos” para dar suporte a uma eventual tomada do poder.
Mauro Cid realizou todos os cursos militares que um oficial necessita para chegar ao generalato, mas deixou de ler o livro Técnicas de Golpes de Estado escrito pelo italiano Curzio Malaparte, publicado pela primeira vez em 1931. Nele, Malaparte analisa como Mussolini chegou ao poder em 1922 através de um golpe e porque Hitler fracassou quando tentou o Putsch de 1923. Por falta de conhecimento histórico, Mauro Cid e seus comparsas golpistas ficarão um bom tempo encarcerados.
Pouco sabemos sobre os seus depoimentos dados à Polícia Federal. Se o tenente-coronel Mauro Cid tiver revelado o que sabe sobre as armações golpistas, muitos outros integrantes do alto escalão do governo anterior amargarão um bom tempo na prisão, inclusive Jair Bolsonaro.