O cowboy e o bandeirante
Os ex-presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro são os mais emblemáticos representantes do populismo de direita do século XXI. Mesmo sendo derrotados nas urnas, continuam com significativo apoio político em segmentos sociais mais conservadores dos seus respectivos países. E eles têm muito em comum.
Em suas respectivas trajetórias políticas, os dois encarnam o imaginário do herói autoritário que faz a cabeça de muita gente. Trump incorpora o mito do cowboy, alimentado durante décadas pelo cinema norte-americano: branco, hétero, misógino, e que despreza os índios, os negros e os imigrantes latinos.
Bolsonaro, por sua vez, parece mais a reencarnação de um bandeirante paulista do século XVII: preador de índios e destruidor de quilombos, desbravador dos sertões, sempre atrás do ouro e pedras preciosas. Grosseiro, violento, vivendo à margem da lei, ele acredita que só através do uso da força é que pode alcançar seus objetivos.
Para além da mitologia política que alimenta a força dos dois, Bolsonaro tem mais coisas em comum com seu mentor Trump. Ambos desprezam as instituições democráticas e pautaram a meteórica ascensão política em fake news. Também conspiraram abertamente contra a democracia. Não é à toa que os dois respondem a processos por suas ações antidemocráticas.
Em 6 de janeiro de 2021, Trump insuflou seus seguidores a invadirem o Capitólio, sede do poder legislativo dos Estados Unidos. Cinco pessoas morreram. No dia 8 de janeiro de 2023, uma malta bolsonarista invadiu, depredou e roubou o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto.
Tanto Trump quanto Bolsonaro permanecem ativos politicamente. O primeiro já começou sua campanha presidencial e é um forte candidato a ocupar novamente a Casa Branca a partir de 2025. Quanto a Bolsonaro, seu destino é mais incerto. Só será candidato se não for cassado pelo Superior Tribunal Eleitoral.