O José Maranhão que eu vi: um testemunho

– Anisio de Carvalho Costa Neto – 

O título sugere alguém que não o conheceu, apenas o viu. Mas devo confessar que o conheci durante a curta jornada em que tive a oportunidade de auxiliá-lo como secretário de Estado da Receita em sua última gestão à frente do Governo Paraíba. Era seu terceiro mandato.

O título sugere também um depoimento sobre fatos que ocorreram e que foram de relevo para consolidar minha consideração a respeito do pai, marido, homem de família, político, homem público e cidadão.

A convivência “meteórica” foi, em certa medida, de muito ensinamento para mim que, até então, baseado no preconceito de assistir aos debates entre candidatos e vê-lo com dificuldade de se expressar,  o considerava detentor de pouco conhecimento.

Foi a primeira lição que recebi depois de conhecê-lo de perto: Maranhão debatia qualquer assunto relevante com desenvoltura intelectual que me surpreendeu enormemente. Conhecia tudo em que se metia a falar. Custei a acreditar naquilo.

Tivemos muitas conversas, afinal de contas, a Secretaria da Receita era estratégica. Eu compreendia sua apreensão em ter confiado a um servidor de carreira –  e não em alguém formado nas carreiras das agremiações políticas – um cargo de tal relevância e que jamais, até então, tinha assumido qualquer cargo de confiança na administração pública. Aliás, eu fui o primeiro auditor fiscal em atividade a assumir o cargo.

Eu estava equivocado em tudo. O senador, além da desenvoltura intelectual, detinha profundo espírito público na gestão da coisa pública. Foi capaz de exercer mandatos eletivos por quase sessenta anos sem que pesasse sobre seus ombros qualquer dúvida a respeito da lisura com que sempre se portou no exercício dos cargos que ocupou, fosse como parlamentar ou governador.

Sempre desconfiei dos políticos. Não é difícil olhar de ombros para indivíduos que exercem seus cargos públicos como se estivessem no comando da cozinha de casa. Casas bem sujas, diga-se de passagem. Um episódio mudou essa minha impressão. Foi quando assessores do governo tentaram apagar débito tributário de mais de R$ 16 milhões de uma empresa instalada em Cabedelo. Ali conheci a face mais exuberante do senador José Maranhão: a da honestidade. Maranhão me ensinou que nem todo político é igual. Ele, de fato, era diferente. Foi minha segunda lição.

Lembro que, tão logo informado pelos meus assessores da conspiração articulada para beneficiar a empresa em detrimento dos cofres públicos, corri à Granja para informar ao Governador do ardil em construção. Sua reação foi enérgica e as palavras jamais deixarão de retumbar em meus ouvidos: “Não vou permitir isso. Se querem defender a empresa, que o façam na Justiça”.

O então governador teve uma reação imediata, rápida e com seu profundo espírito público rechaçou a tentativa desatinada e ilegal de conceder favores em prejuízo dos cofres públicos. Sua atitude foi a responsável por colocar todos os pontos nos is. Todos os centavos foram recolhidos pela tal empresa e foi naquele episódio que pude comprovar que a honestidade de Maranhão não era apenas uma figura de retórica, mas um dos atributos de um dos políticos mais influentes e importantes da história recente da Paraíba.

Apesar de curta, minha convivência foi rica em ensinamentos. Sei que servi ao ex-governador com a mesma energia com que ele administrava o Governo. Sentia-me nessa obrigação. Mas sou eu, agora, quem tenho de agradecer, pois ele serviu ao povo paraibano com muito mais devoção.

Agradeço também porque afastei de mim velhos preconceitos ao conhecê-lo. Pude testemunhar seu alto nível de compreensão a respeito dos problemas do Estado. Pude testemunhar ainda seu relevante interesse pela coisa pública, além de agudo espírito público. Eu não conheci José Maranhão, mas esse foi o José Maranhão que eu vi.