Oriente Médio: quem são os terroristas?
Terroristas bárbaros, sanguinários, decapitadores de criancinhas, agridem covardemente o inocente estado de Israel. É assim que passamos a pensar, desde o último sábado, se ouvirmos os noticiários, na mídia e nas redes sociais. Árabes palestinos, sedentos de sangue passaram a fronteira da faixa de Gaza, por pura maldade, em uma atitude covarde, matando inocentes que se divertiam em uma festinha próxima à fronteira do enclave palestino e levaram reféns para o outro lado. Os terroristas destruíram casas, mataram a população civil, por pura maldade, e ainda levaram inocentes como reféns. Agora, o estado agredido proclama o direito de defender-se e apela para a solidariedade internacional. É claro que os pacíficos estados democráticos do mundo ocidental, liderados pelos EUA e União Europeia, correram imediatamente em solidariedade, aproveitando a oportunidade para atacar o Irã, por ser o maior apoiador do Hamas. Mobiliza-se o mundo contra o terrível Hamas, apontado como figura do demônio. Ao mesmo tempo, foram iniciados os bombardeios de Israel contra o território de Gaza, certamente visando alvos militares, mas matando igualmente civis e crianças, o que não entra nos noticiários.
Acirra-se o clima de guerra no mundo e o primeiro abacaxi caiu no colo do Brasil por ser, no momento, o atual presidente do Conselho de Segurança da OTAN, que foi imediatamente convocado. A tensão está aumentando, com declarações cada vez mais belicistas dos ocidentais. Ministros do governo israelita clamam pela eliminação completa do Hamas, que deverá ser varrido da face da terra. As nações mostram-se escandalizadas com a perversidade dos “terroristas” do Hamas, que atacaram uma nação pacífica e mataram muitos inocentes.
O que não está sendo levado em consideração?
Todos esquecem o passado e a origem do estado de Israel, que se instalou como um país agressor e, há mais de 56 anos, ocupa os territórios da Palestina, antes habitados pelos árabes palestinos.
Desde 1948, quando foi criado por uma decisão da ONU, Israel vem expandindo seu território, tomando terras dos árabes, expulsando-os e confinando-os em guetos. Na divisão inicial da Palestina, feita pela ONU, aos judeus caberia 53,5% do território e aos árabes palestinos 45,4%. Através de guerras e todo tipo de violência, esta divisão não foi respeitada e os palestinos foram sendo encurralados em pequenas áreas e rigidamente controlados, tendo com frequência suas casas tomadas e destruídas. Até hoje, continuam a ser instalados assentamentos judaicos em terras dos palestinos garantidos pelas forças armadas de Israel. E de nada tem valido as repetidas decisões da ONU, que não são respeitadas pelas autoridades israelitas. Calcula-se que atualmente existam 5.300 palestinos presos em presídios de Israel, sem qualquer processo legal, e um verdadeiro regime de “apartheid” foi instalado. Isto é denunciado por várias organizações internacionais, como a “Human Rights Watch”, e foi objeto de decisões da ONU, não cumpridas por Israel, até o presente. Aliás, é uma constante, na existência de Israel, o não cumprimento das decisões da ONU, sem qualquer consequência. Toda punição é bloqueada pela ação dos EUA, membro do Conselho de Segurança com poder de veto. Agora, os países amigos condenam unanimemente a ação do Hamas, considerado organização terrorista. No entanto nenhuma condenação é feita a Israel, por realizar terrorismo de estado, como o que está acontecendo, no momento, com os bombardeios indiscriminados de Gaza, que, além de destruírem a infraestrutura urbana, estão matando crianças, civis, e mesmo funcionários da ONU.
O momento que estamos vivendo é muito delicado, pois as declarações de Israel mostram a decisão de varrer o Hamas da face da terra, nem que para isto tenha de arrasar a faixa de Gaza. O ultimatum dado aos palestinos para evacuarem o norte da faixa de Gaza, em 24 horas, é um exemplo do que está por vir. A ONU já afirmou que isto não é possível, pois significa mover mais de um milhão de pessoas, em um país sem energia, água e meios de comunicação. Coisas muito graves estão por ocorrer, o que veremos nas próximas semanas.
Não pretendia ocupar tanto espaço com este assunto, mas a histeria da imprensa oficial e o berreiro das agências de notícias obrigaram-me a lembrar alguns fatos. E há muitos mais. Talvez tenhamos de voltar ao assunto diante da catástrofe que se avizinha.
Passando ao panorama interno, com a economia não temos grandes novidades. Apenas há um fato a lamentar, que é a continuação da queda nos investimentos e a destruição de nosso setor produtor de bens de capital. O setor produtor de máquinas e equipamentos, que representa o grande motor do crescimento, vem tendo um desempenho cada vez mais fraco, diante das incertezas na economia, dos juros muito altos e da própria fraqueza da produção industrial. A FGV-Ibre estima que, neste ano de 2023, os investimentos sofrerão uma retração de 0,9%. Tanto a produção dos chamados bens de capital, quanto a importação destes bens, vêm ficando muito abaixo dos valores do ano passado. As exportações ainda estão salvando o setor, apesar da falta de financiamento, que só cobre 1% delas, pois o governo anterior desestruturou as agências promotoras e o sistema de seguro de crédito à exportação (SCE). A queda das vendas para o mercado interno somada ao aumento das importações, tornaram a situação da indústria nacional ainda mais difícil.
Esta é uma notícia muito má para a equipe econômica do governo. Os prognósticos para a economia são preocupantes.
No campo político, a situação tem caminhado para uma nova crise, desta vez entre o Legislativo e o Judiciário. Agora o Congresso tenta alterar a composição do Supremo Tribunal Federal (STF) e controlar suas decisões. Isto se materializa nos projetos para estabelecer duração para os mandatos dos ministros do Supremo, para criar a possibilidade de o Legislativo revogar decisões do Judiciário e para a proibição das decisões monocráticas dos ministros. Toda esta fúria foi provocada por decisões do STF, que desagradaram as várias bancadas da bala, da bíblia e do boi. As pautas ideológicas (aborto, legalização do uso das drogas), o marco temporal e a autorização para a volta da contribuição aos sindicatos radicalizaram os diferentes grupos sociais. Somou-se a isto o descontentamento do grupo do presidente da Câmara, o “primeiro-ministro” Artur Lyra, com a demora do governo em atender suas demandas pessoais por cargos.
Este é o Congresso que temos, resultado da política provinciana de votação em partidecos, segundo conveniências locais. Por este caminho não iremos a nenhum lugar. Não basta votar para os cargos majoritários. Sem deputados, senadores e vereadores não é possível governar.
As eleições municipais vêm aí. Vamos ver se teremos um comportamento diferente.
Realmente o mar não está para peixe. Boa atuação diplomática do governo brasileiro, com repatriamento de concidadãos.