“Pesquisolatria”

A palavra que dá título a esse artigo é inexistente, prezado ledor e atenciosa leitora. Cumpri minha obrigação. Consultei o “Aurélio” e o google, mas não a encontrei, ao menos da forma como a quero apresentar e interpretar: o culto exacerbado às pesquisas eleitorais.

Consultas eleitorais são importantes. Servem para balizar estratégias da candidatura, consolidar apoios, captar recursos e convencer parte do eleitorado (em torno de 10%), principalmente aqueles menos politizados, que preferem votar no “candidato que vai ganhar”.

Existem dois tipos de pesquisas sérias. As públicas, que são feitas para serem divulgadas e causarem o impacto necessário entre aliados e adversários. E as privadas, realizadas para análise interna (candidato e grupo seleto de apoiadores), cujo objetivo é verificar como anda a campanha e traçar as próximas coordenadas, no intuito de conquistar corações e mentes dos eleitores e assim obter a vitória.

Mas as pesquisas não são bolas de cristal. Tampouco o marqueteiro de plantão é o oráculo que dirá quem será consagrado nas urnas. As pesquisas, desde que sejam realizadas com métodos científicos, refletem dois aspectos básicos e inquestionáveis: o quadro do momento e a tendência do eleitorado, não um inexorável resultado da eleição.

Dois recentes exemplos da política paraibana indicam que as pesquisas eleitorais nem sempre refletem o comportamento do eleitor no dia da votação. Vamos a eles.

Em 2010, José Maranhão (MDB) tinha tudo para ser reeleito governador da Paraíba. Administração bem avaliada, base eleitoral robusta, ampla aliança eleitoral e máquina partidária azeitada com fartos recursos.

Na última pesquisa eleitoral, divulgada pelo prestigiado Ibope (atual Ipec) na véspera do 1º turno da eleição, Maranhão venceria Ricardo Coutinho (PSB) com 12% de diferença. Apuradas as urnas, Ricardo obteve 49,74% e José Maranhão 49,30%. 28 dias depois, Ricardo foi eleito governador, com 53,70%.

O segundo exemplo é mais recente. No dia 19 de setembro de 2018, faltando duas semanas para a eleição, o Ibope divulgou mais uma pesquisa da disputa de duas vagas para o Senado na Paraíba. De acordo com o levantamento, Cássio Cunha Lima (PSDB) tinha 40%, Veneziano Vital do Rêgo (PSB) 34%, Luiz Couto (PT) 26%, Daniella Ribeiro (PP): 20%, Roberto Paulino (MDB) 12%, Professor Nelson Júnior (PSOL) 2% e Nivaldo Mangueira (PSOL), 2%.

Em todas as pesquisas realizadas até então, Cássio despontava como favorito. De acordo com as sondagens, sua reeleição estava garantida. Mas, contabilizados os votos, Veneziano ficou em 1º lugar, com 24,63%, seguido por Daniela Ribeiro (24,25%) e Luís Couto (23,10%). Cássio havia obtido apenas 17,53%, amargando o 4º lugar, sofrendo sua pior derrota política em toda a vida pública.

Pesquisas eleitorais são fundamentais. Mas não infalíveis. A política tem uma dinâmica extremamente intensa. Aqueles mais calejados sabem que só se ganha a eleição na última semana de campanha, quando boa parte do eleitorado desperta para decidir, para o bem ou para o mal, o seu destino político.