Qual o programa da “terceira via”?

Em 2014, o Brasil saiu do Mapa da Fome. No entanto, em 2021, o Brasil tem pessoas esperando um caminhão de lixo para coletar restos de comida. Em 2014, o Brasil estava com 4,8% de taxa de desemprego, ou seja, taxa de pleno emprego, segundo a Organização de Cooperação e Desenvolvimento (OCDE). Todavia, em 2021, o desemprego no país já atingiu a marca de 14,1%, afetando mais de 14,4 milhões de pessoas, sem contar com os desalentados, que já nem mais procuram emprego.

Em 2014, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), o salário mínimo atingiu o maior poder de compra em três décadas, com ganhos reais de 72,35% desde 2004, recuperando assim o rendimento que não tinha desde 1983. Porém, em 2021, o salário mínimo tem o pior poder de compra dos últimos dez anos, com a chamada inflação dos alimentos chegando à casa dos 20%, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

E o que aconteceu no país em apenas sete anos? Tudo começou em 2015, com o governo da presidenta Dilma inviabilizado pelas chamadas “pautas bombas” armadas a partir do então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (MDB-RJ). E tudo continua em 2021, com os mesmos responsáveis ou cumplices por toda destruição desde 2014 criticando a “polarização” como causa de todos os males nacionais.

Você certamente já ouviu alguém dizer que leu em um grupo de WhatsApp ou que ouviu algum incauto comentarista de rádio dizer que o Brasil estava quebrado. Porém, aposto que já sabe que, só de reservas internacionais, o governo Bolsonaro recebeu mais de US$ 380 bilhões de dólares. Imagine isso em moeda nacional.

Não dá outra: sempre que você encontrar alguém reclamando da “polarização”, estará diante de um constrangido eleitor de Bolsonaro em 2018. Ou, talvez alguém que tenha viajado para não votar diante de uma “escolha tão difícil”. A verdadeira polarização é entre a fome e o emprego, e hoje o polo dominante é a fome. A polarização que existe na vida real é a pobreza cada vez maior para muitos versus a riqueza cada vez maior para poucos. De um modo ou de outro, é isto que se expressa nas últimas pesquisas eleitorais.

Grandes empresas de comunicação (e seus replicadores locais), ao lado de setores do aparato de Estado, sendo a operação Lava Jato o seu elemento mais visível, são igualmente responsáveis por toda devastação social que assola o país, penalizando os mais pobres e agraciando os mais ricos. Ao fim das contas é o negócio da ideologia e a ideologia do negócio.

A alternativa que se apresenta como “terceira via” nada mais é do que um bolsonarismo sem Bolsonaro. Como foi o governo Temer. Alguma dúvida? Qual é o conteúdo da política que propõem? Qual o programa para o país sair dessa crise que eles mesmos criaram? Com certeza, com uma rápida pesquisa na internet, você encontrará parlamentares da direita “bolsonarista sem Bolsonaro” defendendo a reforma trabalhista no governo de Michel Temer, argumentando que esta medida seria fundamental para a geração de empregos.

O atual governo federal e a mal chamada “terceira via” têm o mesmo projeto de país. Precisam que o Brasil volte ao que era 100 anos atrás. Um país atrelado aos interesses dos Estados Unidos, sem parque industrial, exportando commodities, sem direitos sociais e com uma brutal concentração de renda e distribuição de pobreza. Aquele Brasil de 2014 não cabe neste projeto.

O caso do aumento dos preços dos combustíveis é emblemático. Como o bolsonarismo e a “terceira via” defendem a mesma política econômica, custe o que custar, não tocam na política de preço da Petrobrás, que indexa os combustíveis e derivados no mercado interno ao preço do dólar no mercado externo, favorecendo os acionistas privados da empresa em detrimento de todo povo brasileiro.

O legado desses últimos setes anos são a retirada de direitos, o obscurantismo alopático para enfrentar uma pandemia, crimes ambientais e desmatamentos cada vez mais crescentes, a complacência do Estado com garimpos ilegais, a retomada da inflação, crise energética (que só não nos levará a um o apagão por conta do baixo crescimento econômico), a “uberização” da economia, o desmantelamento do sistema de previdência social, o sucateamento da produção cientifica nacional e toda uma longa lista de retrocessos e destruição.

Charge: André Dahmer