Quem será ungido pelo voto?

Faltando mais de um ano para a eleição do próximo presidente da República, uma eternidade em termos do dinamismo da política brasileira, qualquer previsão tem o mesmo efeito da Cloroquina no combate ao Covid-19: completamente nulo.

Mesmo assim, vale a pena acompanhar os passos dos principais candidatos, pois eles já se movimentam com desenvoltura. E não podemos esquecer: deles depende o destino do país nos próximos anos.

Lula (PT) deu início a um périplo por alguns estados do Nordeste, região em que tem maior apoio eleitoral. Começou se encontrando com representantes dos movimentos sociais, suas bases históricas. Mas, ao mesmo tempo, faz acenos para integrantes do eterno Centrão. Ele sabe que, sem esse grupo de parlamentares, não há governabilidade.

Lula anda animado. A última pesquisa da XP/Ipespe registra continuidade na tendência de crescimento das intenções de voto no ex-presidente. Ele tem 40% da preferência eleitorado, contra 24% de Jair Bolsonaro. Esse resultado deu combustível à militância petista.

Ciro Gomes (PDT) continua na sua cruzada inglória de tentar construir uma terceira via. Suas críticas contundentes contra Lula e Bolsonaro têm lhe garantido o terceiro lugar, com 10% dos votos. O problema é que sua vaidade é maior do que a inteligência. Em 2018, Geraldo Alckmin tentou a mesma estratégia. Terminou com 4,76%. Sua única chance é se Lula desistir da candidatura.

Se Ciro desse uma rápida olhada em todas as eleições presidências, de 1945 até 2018, saberia que só ganharam aqueles candidatos que tinham uma forte base eleitoral no Sudeste, região com maior colégio eleitoral (43%). Collor de Melo, eleito em 1989, é a exceção que confirma a regra.

Jair Bolsonaro (sem partido) continua em queda livre. De acordo com a pesquisa da XP/Ipespe, ele perderia a eleição para Lula e para Ciro Gomes, num eventual segundo turno. Mas isso não significa que ele está derrotado. Sua estratégia de permanecer no poder obedece a dois planos, que estão em curso simultaneamente.

O primeiro deles consiste em continuar se colocando como o candidato antipetista, o que lhe garante uns 30% do eleitorado. Ao mesmo tempo, pretende aumentar o valor do programa bolsa-família e mudar seu nome. Além disso, acena para a classe média numa diminuição na alíquota do imposto de renda. Afinal, o bolso é o órgão mais sensível do ser humano.

O segundo plano do presidente é o golpista. Caso perca a eleição, dirá que ela foi fraudada e acionará sua milícia digital na perspectiva de um golpe de Estado. Se as Forças Armadas e parte da população embarcarão nessa aventura autoritária, só o tempo dirá.

Pelo andar da carruagem, com Amado Batista e Sérgio Reis sendo os menestréis dos arroubos autoritários de Jair Bolsonaro, o sonho golpista tem se tornado um pesadelo para as hostes bolsonaristas.