Será o crescimento da economia superior a 2%?
Falamos na Análise passada que a economia do país está finalmente reagindo. Falamos também sobre as razões deste crescimento. Agora cabe perguntar, diante da promessa do Lula: será que este crescimento ficará acima dos 2%?
Transcrevo aqui parte da Análise do Professor Lucas Milanez, publicada no Blog do Progeb, sobre os ciclos econômicos.
“Como principal pilar das nossas análises de conjuntura, admitimos que as economias capitalistas se desenvolvem através de movimentos alternados de maior e menor intensidade de crescimento. Em outras palavras, o crescimento econômico passa por uma espécie de montanha russa, hora subindo, hora descendo.
Isso não é mera opinião. Há vários economistas, de diferentes vertentes, que comprovaram estatisticamente a existência desse movimento repetitivo, que ocorre desde o começo do século XIX. A regularidade e periodicidade das oscilações é tal que o fenômeno ganhou até um nome: ciclo econômico.
O ciclo econômico é composto por quatro fases distintas, que se repetem de forma sequencial: 1) crise, quando o crescimento econômico começa a desacelerar de forma generalizada e consistente; 2) depressão (ou fundo do poço), quando o crescimento atinge o patamar mais baixo (em alguns casos há um decrescimento da economia) e há um processo generalizado de destruição de capitais (falências, fechamento de fábricas, aumento do desemprego, etc.); 3) reanimação, quando a economia volta a crescer, pois os capitais sobreviventes se reacomodam e se expandem nos espaços deixados no mercado; e 4) auge, quando o crescimento atinge o ponto máximo, devido à euforia com os ganhos de renda e aos altos investimentos. Depois disso, ocorre uma nova crise. Dentre outros fatores, a desaceleração chega como resultado do potencial produtivo excessivo criado com a retomada da economia.”
Este movimento é afetado pela política econômica que pode deformá-lo acelerando cada fase ou retardando e mesmo alterando sua intensidade. Não pode, entretanto, abolir o movimento. Nossas Análises baseiam-se nesta teoria e é por isto que, apesar de desejar muito o sucesso do governo, não podemos fugir da realidade. O que ocorreu é que o longo período de desaceleração que atravessamos, agravado pela política econômica do governo passado, causou uma grande destruição na economia, o que sempre acontece, e é uma característica das fases de crise e depressão. Este é o legado maldito deixado pela incompetência do desgoverno Bolsonaro. Pior do que isto foi o desmantelo do aparelho de Estado, o instrumento para se fazer política econômica. Infelizmente somos obrigados a passar por uma fase de reestruturação do Estado para poder cuidar da economia e do país. É um precioso tempo perdido, mas necessário.
No entanto, a destruição causada pelo tsunami Bolsonaro tem seu lado positivo. Permite uma política econômica capaz de produzir resultados de recuperação mais rápidos. Mas, o consumo das famílias, embora esteja sendo estimulado, levará algum tempo para crescer diante da situação de endividamento dos consumidores. O programa “Desenrola” será muito útil para melhorar este quadro. A retomada das obras do Estado também será outra fonte de estímulos. Igual contribuição virá da queda da inflação, do aumento do salário-mínimo e do bolsa família. será A contribuição do investimento privado, entretanto, será mais lenta. Isto só ocorrerá quando os estímulos ao consumo tiverem cumprido sua função o que exige algum tempo. Com efeito, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) estima que o crescimento do consumo das famílias só será de 0,5% neste ano. Mas, o problema não se resume ao consumo das famílias. Em relação à indústria a situação também não é das melhores. Em abril, em relação a março, a indústria teve uma contração de -0,6%, segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM Regional), feita pelo IBGE. 10 dos 15 locais pesquisados seguiram a média nacional de queda. Dos 25 ramos pesquisados 16 tiveram recuo.
Com certeza seria de grande ajuda um aumento da oferta de crédito. No entanto, é neste terreno que teremos de enfrentar as maiores dificuldades. Enquanto escrevemos estas linhas foi divulgado o resultado da reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central (BC). A decisão sobre a taxa de juros Selic foi a esperada: manutenção dos atuais 13,75%, a mais alta taxa de juros do mundo. Muita razão tem o jornalista Reinaldo Azevedo quando em seu programa o “E da coisa” afirmou que a diretoria do BC é “Um bando de fanáticos endossados por outros idiotas que perderam o discurso e agora não sabem o que falar”. Como já afirmamos em outas análises o presidente do BC, Bob Fields Neto continua servindo aos seus senhores e remando contra as intenções do governo e contra o crescimento do país. Foi para isto que o senado aprovou a “independência do BC”. É preciso garantir a maior lucratividade para os especuladores financeiros.
E o “bando de fanáticos” segue em frente, não ouvindo os clamores das maiores autoridades do país nem as opiniões de representantes ilustres do setor produtivo como a carta aberta assinada por 51 membros do Conselho de Desenvolvimento Sustentável, ligado à presidência da República, entre os quais estão Luiza Trajano, do Magazine Luiza, e Josué Gomes presidente da Fiesp.
Enquanto isso a situação internacional continua turbulenta. O Instituto de Finanças Internacionais (IIF) prevê “um pouso suave” para as economias dos EUA e a economia global. Na zona do euro o crescimento seria de 0,6%. A china vem adotando estímulos para conter a desaceleração em curso. As taxas de juros continuam a crescer, as dívidas dos países a aumentar, mas os apelos pela guerra e gastos militares se mantêm.
Eis o que temos a destacar na semana que findou. É preocupante! Podemos afirmar que a economia vai crescer, mas, é prematuro garantir que este crescimento ultrapassará os 2%. No entanto o governo precisa de bons resultados econômicos para garantir sua credibilidade e enfrentar a matilha de hienas que não se cansa de rosnar e criar todo tipo de dificuldades à governabilidade.
É grande o desafio!