Vacina para política dos medíocres

– Por Daniel Macedo – 

As pessoas estão cansadas e a política não dá respostas.

Daí ser importante melhorar a política, e isso depende mais de uma melhor compreensão da realidade pelo povo que de melhores qualidades entre políticos.

Acreditar na democracia é entender que povo é capaz de se organizar políticamente para estabelecer demandas e prioridades. Esse movimento de cordão na cidadania requer cruzar os guetos habituais que separam porções de povo em trincheiras distantes e incomunicáveis entre si.

Insisto na palavra: política. É necessária e urgente a reaproximação com o termo e seu significado.

2021 será um ano duro. Ou se reinventa a política fora dos palácios e gabinetes, ou experimentaremos um cardápio de decisões que serão próximas a um ensaio para o apocalipse.

Aliás, na antessala do apocalipse estão as decisões políticas das Câmaras Municipais de João Pessoa, Cabedelo e Patos, bem como a ação judicial anunciada pelo quase ex-prefeito Romero Rodrigues, visando garantir restaurantes abertos nas festividades de fim de ano.

São todos negacionistas por definição: entendem a realidade como um brinquedo que age conforme sua preferencia. Não só negam,como alimentam o colapso social provocado pela pandemia com demagogia chinfrin. Diria que tem estatura política de Odoricos Paraguaçu, mas falta originalidade, relevância e impafia para tanto.

O jogo político cheio de dilemas e pressões que se avizinha não admite ação política sem verniz. Não precisamos de políticos “donos da festa”, mas de líderes conscientes do perigo e com responsabilidade perante o povo.

É o que revelam os desafios postos.

A fome, por exemplo, é um problema social e ético com repercussões econômicas variadas. Em 2020 cerca de 10,3 milhões de brasileiras e brasileiros vivem em estado de insegurança alimentar grave. As projeções para o próximo ano assustam: deve haver descontinuidade do auxílio emergencial, programa de renda básica que socorreu 67,7 milhões de brasileiros.

Entre março e setembro quase 1 milhão de vagas de trabalho foram fechadas, e aqui me refiro aos postos formais. Se na educação 36 mil vagas de professor foram fechadas, entre trabalhadorxs domésticos, no mesmo período 1,4 milhões de brasileiras perderam o emprego.

Ainda segundo o IBGE, 68% dos trabalhadores que ficaram sem trabalho no segundo trimestre de 2020 (quase 9 milhões) ocupavam postos informais. No final de 2019 os informais somavam 38 milhões de pessoas.

A (des)proteção do emprego em meio ao colapso social, ao tempo em que cria uma marcha de zumbis, joga luz no desafio de não apenas elevar o patamar de vida de mais brasileiros, como também, e agora mais do que nunca, no desafio de garantir sobrevivência digna à todos.

Quando posta em forma de preocupação soa simples, pois óbviia, mas aqui se apresenta questão a ser resolvida pela política com muita mediação, e por políticas baseadas em evidências, conduzidas com liderança, transparencia e prestação de contas.

O avesso do governo que ganha as manchetes do mundo por sua teimosia hedionda na construção do plano de imunização que garanta vacina para todos.

Quando se olha para a juventude, a demanda de políticas é alarmante. Com a maior população jovem da história (47,2 milhões), levantamento aponta que 28% dos jovens entre 15 e 29 anos pensam em deixar os estudos quando escolas e universidades reabrirem após a pandemia. É preciso enfrentar o desafio de acesso a permanencia, quanto à educação, como também dar enfase às políticas de emprego e renda, criando ambiente para empreender.

De outro modo, inadiável pensar os efeitos da exclusão digital, que agrava os níveis de vulnerabilidade da população mais pobre, o que nos remete ao debate urgente sobre cidadania digital, na antessala do desafio de transformação digital produtivo.

No país que tem a segurança alimentar de seu povo como agenda, é preciso modernizar as burocracias públicas, sem medo de concluir o óbvio: temos que  quebrar a cabeça para conciliar equilíbrio fiscal e proteção social, entregando resultado pra população e desmistificando a relação do público com o privado para prover demandas de interesse coletivo.

Na Paraíba, a população tem o imenso desafio de driblar as manchetes e os assuntos em pauta quando não for ouvida. Se fazer ouvir é o que se espera do povo numa democracia. Na vertigem, antes de ser diferencial é requisito.

Que em 2021 os problemas públicos sejam percebidos como de todos, de modo que nas soluções hajam as digitais de muitos e várias. Eis a vacina para a política medíocre, dessas que nega doença e vacina, ou a daqueles que aprovam o próprio aumento em meio do caos.