Retomada da economia: vacinação é a chave
A Paraíba registrou neste domingo (14) 1.256 novos casos de COVID-19, 37 mortes (28 delas em 24 horas). Nesta segunda-feira (15), 59 mortes (43 nas últimas 24 horas). Os dados são da Saúde do Estado que ainda revelou outra situação preocupante – sintoma de um sistema que já colapsou: 52 pessoas precisam de um leito de UTI no Estado e 48 delas estão na grande João Pessoa. As outras, no sertão. Há ainda 25 pacientes que estão na fila por uma vaga em alguma enfermaria. Para todos eles, a agonia da espera que pode fazer a diferença entre a vida e a morte. Para eles, para a família, a dor da incerteza.
Esse é o retrato da pandemia na Paraíba onde 4.933 infectados já morreram, pela doença ou em consequência dela. É diagnóstico de um país que, deliberadamente, optou por não enfrentar a crise na saúde, negou (e nega) a ciência e sua responsabilidade no caos, e continua a transferir responsabilidades. É também resultado de uma idiotia coletiva que denuncia o atraso mental de uns na compreensão da emergência sanitária que vivemos; o retardo moral de quem não valoriza a vida do outro; e a maldade de tantos que procuram auferir lucro político em cima do sofrimento e do desespero alheio.
Sobre esta figura especificamente vale um recorte. Esse tipo se vê aqui e acolá. É como verme que se alimenta da carne viva. Corrói a esperança alheia quando deposita em suas vítimas os germes do ressentimento e do ódio. É da turma dos que vestem a bandeira, esbravejam palavras de ordem pelo Brasil, mas, no fim, trabalham contra, precisam do conflito e por isso o sustentam. Triste de quem cai nesse tipo de lábia. É populismo da pior espécie. Raso. Violento. Virulento. Esse vírus deixa seu hospedeiro raivoso, mas em geral não mata. Contra ele há vacina: a informação (e não a mentira!). Contra o outro, o corona, também tem antídoto, mas esse ainda é um remédio para poucos.
O Brasil vacinou até agora menos de 5% de sua população (Consórcio de Veículos de Imprensa). Isso dá menos de 10 milhões de pessoas em um país cuja população estimada é de 211 milhões (IBGE). No universo dos imunizados, menos de 2 milhões tomaram a segunda dose. Fazer passeata nessas circunstâncias é contribuir com o colapso. E fizeram. Aqui mesmo em João Pessoa, grupo considerável de pessoas foi às ruas pedir o fim dos decretos estadual e municipal que impõem restrições ao funcionamento de uma série de atividades econômicas. Culpam governador e prefeito pelas perdas econômicas e pelo aumento do desemprego.
Um outro protesto na manhã desta segunda-feira reuniu empresários do setor turístico. O segmento defende a liberação do consumo de comidas e bebidas não alcoólicas em bares e restaurantes depois das quatro da tarde e nos fins de semana, o fim do toque de recolher. Há uma preocupação legítima: o fantasma do desemprego, o medo da falência. São profissionais liberais, pequenos e médios empresários, vendedores ambulantes, artistas, gente do setor de comércio e de serviços que não sabem como vão se manter.
Mas se a pauta é econômica, o argumento dos que aglomeram por si só se destrói. Armas apontadas para o lado errado porque o inimigo é outro. Quanto mais gente circulando, maior a transmissão da doença e a demanda por leitos de enfermaria e UTI. Mais gente doente, mais gente morta. Desse jeito, não tem economia que resista. É consenso entre profissionais da área: o remédio para a recuperação dos negócios, dos empregos é a vacina. É ponto pacífico entre sanitaristas e infectologistas: a vacina é o caminho para salvar vidas. Nos dois protestos, a vacina não foi o foco.
É curioso. Um e outro deixam de cobrar responsabilidade sobre o gerenciamento de toda essa crise de quem a tem, ou detém a maior parte dela. A vacinação ampla da população cabe ao governo federal por meio do Ministério da Saúde que deixou de negociar vacinas ainda em 2020 quando boa parte do mundo se antecipou. Faltou planejamento. Fora isso, o presidente fez campanha contra o uso de máscara, contra o isolamento social. Cabe à União também socorrer Estados, Municípios, setor produtivo, desempregados, trabalhadores informais porque só governo federal pode emitir dívida e financiar programas emergenciais. Governo que não age, apenas reage, e muito mal, às iniciativas do Congresso e dos Estados no combate à pandemia. Há aí, outro grande problema de foco, e de prioridades. Vida e economia não estão entre elas.