Há gente apostando no pior

Continuamos no rescaldo do desastre do Rio Grande do Sul. É a hora da caça às bruxas. Quem são os culpados? O governador é o primeiro suspeito, com suas leis antiecológicas, beneficiando o agronegócio predatório. Há os culpados globais, os destruidores da natureza a nível planetário. Estamos vivendo o pleno aquecimento global e os prognósticos são terríveis. Acabo de assistir um seminário de membros do antigo Centro de Estudos de Economia, Energia, Transporte e Ambiente (CEETA), criado no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), comemorando a organização de uma grande base de dados com todo o acervo acumulado durante os anos de seu funcionamento, base que agora estará disponível aos pesquisadores. Participaram como conferencistas os melhores especialistas portugueses nas áreas pesquisadas pelo Centro. Claro que os problemas climáticos atuais foram o destaque nos debates, e alertas foram feitos. No que se refere à energia destacou-se a luta contra o nuclear que está sendo banido na Europa e a defesa das renováveis, tema em que o CEETA foi pioneiro. Sobre os transportes, o grande tema foi a ligação do problema com a urbanização. Muda-se o conceito: não são as pessoas que se devem deslocar em busca de transportes, mas os transportes que devem procurar as pessoas. As cidades precisam ser concebidas de tal modo que as pessoas gastem o mínimo de tempo nos deslocamentos para satisfazerem suas necessidades de lazer ou trabalho. Em relação ao Ambiente houve a condenação unânime dos agrotóxicos e fertilizantes, a defesa da agroecologia, a condenação de certas culturas como o eucalipto e mesmo a cultura intensiva das oliveiras, por exemplo, que, em vez de durarem 3.000 anos, agora não vivem mais de 5.

Outra questão a comentar nesta curta estadia fora do país é a posição de União Europeia em relação às grandes questões atuais, como as guerras. Portugal apresenta-se como lacaio fiel das decisões de Bruxelas e da OTAN. Acabo de ver na televisão um pronunciamento de autoridade local, afirmando que começarão a enviar armas para a guerra da Ucrânia. Os idiotas, que mal se seguram nas pernas, e vivem recebendo ajuda dos fundos europeus, obedientes ao comando dos EUA, via OTAN, querem bancar os “carapaus de corrida”, metendo-se onde não lhes compete. Aliás, este tema e a guerra de Gaza são as duas grandes vergonhas dos civilizados povos europeus. Perderam a personalidade e comportam-se como meros vassalos dos americanos. Isto, em parte, é consequência do medo que têm dos russos, que já os fizeram amargar por 3 vezes, o sabor da derrota na guerra.

Mas, voltando às questões internas, temos a comentar as decisões do Conselho de Política Monetária (Copom), depois da divulgação da ata da sua última reunião. O Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre) comentou a redução da Selic em apenas 0,25%. Apresentou os motivos para a redução da percentagem, contrariando a indicação anterior (forward guidance) de manutenção do ritmo de 0,50%. E, acreditem os leitores, os argumentos apresentados foram: a piora dos cenários internos e externos.

Quanto ao cenário externo, não há muito a contestar. Continua o conflito na Ucrânia, que certamente durará até o último ucraniano, e o massacre em Gaza, que também continuará até o último palestino, objetivo central do “povo de deus”, sedento de sangue e desejoso de criar uma “terra sem povo” para “um povo sem terra”. Por circunstâncias diversas, há um povo na terra prometida e, portanto, é preciso eliminá-lo, para que as determinações divinas sejam cumpridas, mesmo à custa de bombardeios de barracas de lona, que abrigam refugiados com mulheres e crianças. Para os israelitas isso não é problema, pois há muitos decênios eles vivem cometendo tais crimes. Tudo com a conivência e o apoio do mundo ocidental e cristão e apenas protestos formais dos civilizados países da União Europeia e dos Estados Unidos. Aliás, este último, com seus vetos, tem impedido a aplicação a Israel, das decisões condenatórias dos órgãos internacionais.

Mas, embora tudo isto seja tenebroso, o incrível está na resposta à questão da deterioração do cenário interno. Por que o cenário interno está se deteriorando? O Boletim Macro, órgão do IBGE Ibre, em pânico, constata o seguinte: Em março, a indústria cresceu 0,9%, o setor de serviços cresceu 0,4%, e o varejo, em 12 meses, cresceu 2,5%. Que horror! E as causas são apontadas: O “mercado de trabalho aquecido”, “aceleração no crescimento da renda disponível”, “aumento real do salário-mínimo”, “antecipação do 13º salário para beneficiários do INSS”, ou seja, o aumento do emprego, dos salários e dos rendimentos da população são as causas das desgraças que devem ser combatidas com juros mais elevados para todos, embora se saiba que isto prejudica os investimentos e, portanto, o crescimento da economia. Saudemos a independência do Banco Central (BC) e o seu presidente Campos Neto que, seguindo a tradição de seu avô, o famoso Bob Fields, trabalha para impedir o crescimento do país. E não é por maldade, é por ideologia. Ele segue fanaticamente a bíblia ensinada nas escolas de economia, que é fielmente aceita também pelos economistas da FGV Ibre.

O Boletim Macro continua: “No Brasil, a piora do cenário externo se combinou a fatores domésticos que corroboram a necessidade de manter a taxa de juros mais elevada e por tempo maior”.  Eis a razão da conversa fiada. Com o pretexto de combater a inflação, pois as “expectativas já estão desancoradas”, o que se pretende é manter elevada a taxa de juros, para dar maiores rendimentos aos investidores, ou melhor, especuladores. É o deus “mercado” comandando os seus súditos. O Boletim Macro sabe muito bem o que se pretende: “A manutenção de taxas de juros mais altas acaba prejudicando o investimento …”. É a política do quanto pior melhor. Se a isto somam-se as sabotagens do Congresso, aprovando todo tipo de despesas e exaurindo o orçamento, temos o resultado de toda uma política de paralisar o Governo e impedi-lo de governar.

A conspiração, visando depor o governo Lula se mantém. Uma vez derrotada a tentativa de golpe, as hienas continuam às espreitas, à espera de qualquer oportunidade para pôr em marcha uma nova ação. É notável a habilidade pessoal de Lula e de alguns de seus ministros para negociar e contornar cada nova manobra urdida pelos presidentes das duas casas, Pacheco e Lira.

Por isto, torna-se necessária muita vigilância e luta para impedir tais ações. E o teste está próximo com as eleições municipais que se aproximam.