Opinião

Suspensão de Anísio Maia é recado dado: PT nacional não o quer no partido, nem na disputa

Um dos fundadores do PT na Paraíba acaba de sofrer punição da Comissão de Ética do Diretório Nacional pela posição que tomou em 2020 quando, contrariando ordens de cima, manteve sua candidatura à prefeitura de João Pessoa. A pena: 6 meses de suspensão, o que o impede de participar das eleições pelo partido. Na prática, o recado do PT é o seguinte: “não queremos você”. O presidente estadual da legenda, Jackson Macêdo, justificou: “Anísio esticou demais a corda.  Ele peitou a regra, foi para a justiça contra o PT. Quando a gente estica demais a corda, ela rompe”, disse.

Nas eleições 2020, com o apoio apenas do Diretório Municipal (DM), Anísio Maia “teve o pior desempenho eleitoral da história do PT de João Pessoa desde a redemocratização: 1% dos votos. Teve menos voto que a chapa de vereador do PT que teve três vezes mais votos que ele”, lembro Macêdo.  Era tragédia anunciada. Ele estava em um barco deixado à deriva, mas não desistiu. Se colocava como candidato legítimo, e teve a candidatura homologada em convenção. Por isso entrou na justiça, para assegurar um direito previsto na legislação eleitoral. A rebordosa não tardou: um mês após o pleito, a Direção Nacional do PT pediu a expulsão de Anísio, de Giucélia Figueiredo, ex-presidente do Diretório Municipal, e de mais dois membros, Josenilton Feitosa e Anselmo Castilho, por violação à “disciplina, fidelidade e ética partidária”. Pela decisão desta quinta-feira (24), os três ficam suspensos por três meses.

Não é a primeira vez que o PT usa seu “poder de força” para punir um militante na Paraíba. Em 2002, o então deputado Ricardo Coutinho foi também suspenso por 6 meses mas teve a decisão revista pelo Diretório Estadual, que reduziu a pena para 3 meses, liberando sua candidatura à reeleição para a Assembleia Legislativa naquele ano. E ele, Ricardo Coutinho, tem tudo a ver com essa guerra do PT contra Anísio. Ele foi e é pivô do desgaste que começa em 2020 e se estende aos dias atuais.

“A punição a Anísio Maia hoje teve dois objetivos: a posição política adotada em 2020 e a posição de 2022. Nos dois casos um elemento em comum, Ricardo Coutinho”, revelou uma fonte que conhece as entranhas desse processo que destoa de qualquer ambiente democrático.

O PT cometeu erro crasso.  Não porque fechou com Ricardo (que abandonou a legenda por 18 anos e pode fazê-lo de novo) mas porque desprezou um dos seus, sufocando a possibilidade de uma reconciliação. Burocrática, autoritária e incapaz de revisar os próprios atos, a alta cúpula do PT mostra uma grande desconexão com a base do partido. Peca a cúpula petista pelo passo que dá e pelos passos que deu outrora em oposição ao debate e  promoção de rupturas. Claramente há uma confusão entre os conceitos de disciplina e obediência aqui. Anísio está sendo punido porque contestou, provocou e resistiu. Contraditório.

Em setembro de 2021, este Blog trazia a seguinte análise: “Como não há ação sem reação, as consequências de uma decisão tomada sem combinar com a base virão. Se terão o impacto de uma tsunami ou de uma marolinha, o tempo dirá. O PT está pagando pra ver e Anísio é quem pode pagar o pato”. Pagou, mas não perdeu estatura. É possível dizer o mesmo do PT paraibano?