Opinião

Desafio de João e Pedro: “encantar” mais de meio milhão de eleitores faltosos

João Azevêdo não repetiu nas urnas o desempenho de 2018. Pudera! Era um outro cenário em que ele contava com o apoio do ex-governador Ricardo Coutinho, à época no PSB e cujo mandato tinha aprovação recorde de 84,7%. Também naquele período de forte criminalização da política, João aparecia como um técnico, alguém que entendia de gestão pública, e que não carregava a “mancha” ou vícios da política.

Agora, mesmo sem seu padrinho político, ou melhor dizendo, tendo este contra ele, João conseguiu levar a disputa pelo governo para o segundo turno com larga vantagem sobre Pedro Cunha Lima (PSDB), o segundo colocado. Venceu em 170 dos 223 municípios paraibanos. No sertão do estado, sobretudo, só deu João. Diferença de mais de 15 pontos percentuais.

Há que se considerar que esta é uma nova eleição, que Pedro vem recebendo apoios consideráveis. No mesmo sertão que militou e votou em João, lideranças vêm se reunindo e fazendo agora campanha para o tucano. Justificam que não receberam apoio de João, que não foram ouvidos ou que foram negligenciados, o que pode alterar o resultado das urnas na região.  Será suficiente para Pedro? Provavelmente não. Contudo, há outras adesões sendo computadas.

Cabo Gilberto, eleito deputado federal com mais de 126 mil votos, declarou voto a Pedro. Há outros bolosnaristas fazendo o mesmo. Resta saber se o peso eleitoral disso será suficiente para Pedro virar o jogo. A adesão do emedebista Veneziano Vital do Rêgo, quarto colocado na corrida ao governo do estado, que aderiu ao tucano alegando uma coerência que não passa de pirotecnia retórica, não parece ter beneficiado Pedro pelo que mostrou a primeira pesquisa deste segundo turno realizada pela Real Time Big Data e contratada pela Record TV. Ou seja, não houve tranferência de voto – e se houve, faltou  volume.

Por sua vez, João manteve na base o Republicanos, estancando uma sangria que lhe poderia custar caro. Tendo em vista que o atual governador recebeu o apoio de Lula, campeão na preferência do eleitor paraibano, e que Pedro tem uma imagem atrelada a Bolsonaro, João tem grande possibilidade de manter  vantagem sobre seu adversário, mas para transformá-la em vitória deve neutralizar Pedro ou se destacar na capital onde o campinense chegou muito perto e ampliar o placar. É focar nos que permanecem indecisos e nos que expressam o desejo de votar em branco ou anular o voto. Juntos, eles somam 13% (RealTimeBigData).

Há ainda um outro percentual, este baseado em números reais porque resultado do primeiro turno das eleições, que pode ser trabalhado por ambos os candidatos: o de abstenção. Dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PB) dão conta de que 17,02% dos eleitores paraibanos não foram às urnas. Em números absolutos: 534.574 eleitores deixaram de votar. O desafio é convencê-los do contrário. Mais que isso: é encantá-los! Quem trabalhar melhor com os públicos mencionados aqui garante a eleição. Logo, isso vai depender da competência das duas campanhas. É bom lembrar que viradas acontecem o tempo topo na história das eleições brasileiras. Resumo da ópera: não há posição confortável para João assim como não jogo perdido para Pedro.