Brasil

Diplomação de Lula: presidente eleito chora, cita Deus e exalta democracia

O presidente eleito Lula e o seu vice, Geraldo Alckmin, foram diplomados nesta segunda-feira (12) pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes. Em uma cerimônia repleta de autoridades, Lula e Moraes foram os mais aplaudidos pelos cerca de 300 convidados. Durante o seu discurso, o presidente eleito chorou ao se lembrar do período em que esteve preso em Curitiba e também ao recordar o momento em que se emocionou, em 2002, em sua primeira diplomação, ao dizer que o seu primeiro diploma era de presidente da República.

“Em primeiro lugar quero agradecer ao povo brasileiro pela honra de presidir pela terceira vez o Brasil. Em minha primeira diplomação, em 2002, lembrei da ousadia do povo brasileiro em conceder para alguém tantas vezes questionado por não ter diploma universitário, um diploma”, disse enquanto chorava. “Esse diploma é do povo que reconquistou o direito de viver em democracia. Vocês ganharam esse diploma”, acrescentou.

“Quero pedir desculpas a vocês pela emoção porque quem passou pelo que passei nos últimos anos estar aqui agora é a certeza de que Deus existe e de como o povo brasileiro é maior que qualquer pessoa que tentar o arbítrio neste país. Eu sei o quanto custou não apenas a mim, o quanto custou ao povo brasileiro essa espera para que a gente pudesse reconquistar a democracia neste país”, discursou.

Direito à democracia

Segundo ele, com sua eleição, o “povo reconquistou direito de viver em democracia”. “A democracia não nasce por geração espontânea. Ela precisa ser semeada, cultivada, cuidada com muito carinho por cada um, a cada dia, para que a colheita seja generosa para todos. Mas além de semeada, cultivada e cuidada com muito carinho, a democracia precisa ser todos os dias defendida daqueles que tentam, a qualquer custo, sujeitá-la a seus interesses financeiros e ambições de poder. Felizmente, não faltou quem a defendesse neste momento tão grave da nossa história.”

Lula também cumprimento o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral por terem atuado na defesa da democracia durante o processo eleitoral. “Além da sabedoria do povo brasileiro, que escolheu o amor em vez do ódio, a verdade em vez da mentira e a democracia em vez do arbítrio, quero destacar a coragem do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, que enfrentaram toda sorte de ofensas, ameaças e agressões para fazer valer a soberania do voto popular”, afirmou. “Cumprimento cada ministro e cada ministra do STF e do TSE pela firmeza na defesa da democracia e da lisura do processo eleitoral nesses tempos tão difíceis. A história há de reconhecer sua coerência e fidelidade à Constituição”, acrescentou o presidente eleito.

O petista disse que não foram poucas as tentativas de sufocar a voz do povo e fez menções às tentativas do presidente Jair Bolsonaro, mesmo sem citar o nome, de lançar dúvidas sobre o processo eleitoral e as urnas eletrônicas.

“Ameaçaram as instituições. Criaram obstáculos de última hora para que eleitores fossem impedidos de chegar a seus locais de votação. Tentaram comprar o voto dos eleitores, com falsas promessas e dinheiro farto, desviado do orçamento público. Intimidaram os mais vulneráveis com ameaças de suspensão de benefícios, e os trabalhadores com o risco de demissão sumária, caso contrariassem os interesses de seus empregadores. Quando se esperava um debate político democrático, a Nação foi envenenada com mentiras produzidas no submundo das redes sociais.”

Construção x destruição

Segundo ele, a eleição deste opôs duas visões de mundo e de governo. “De um lado, o projeto de reconstrução do país, com ampla participação popular. De outro lado, um projeto de destruição do país ancorado no poder econômico e numa indústria de mentiras e calúnias jamais vista ao longo de nossa história.”

O presidente eleito concluiu seu discurso reiterando o compromisso de “construir um verdadeiro Estado democrático, garantir a normalidade institucional e lutar contra todas as formas de injustiça, que recebo pela terceira vez este diploma de presidente eleito do Brasil – em nome da liberdade, da dignidade e da felicidade do povo brasileiro”.

A cerimônia contou com a participação de autoridades como o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Rosa Weber.

Por conta das condições atípicas no pleito deste ano, a diplomação teve um esquema de segurança reforçado, com atuação de oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal e da Polícia Federal. As vias que dão acesso ao tribunal foram fechadas e só tiveram liberado o acesso os servidores da Corte Eleitoral e os convidados credenciados. Um esquadrão antibomba fez uma varredura no perímetro externo e na área interna do TSE.

Desde o fim do segundo turno, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro se reúnem na frente de quartéis, contestam o resultado das eleições e atentam contra a democracia. Em Brasília, o Quartel General do Exército fica a cerca de nove quilômetros do TSE e, por isso, havia o temor de que os manifestantes golpistas tentassem impedir a diplomação do presidente legitimamente eleito.

Prevista inicialmente para o dia 19 de dezembro, a diplomação foi adiantada em busca de arrefecer os movimentos antidemocráticos. A mudança de data não altera em nada juridicamente, sendo apenas uma questão formal. Em seus dois primeiros mandatos, Lula foi diplomado no dia 14 de dezembro.

Lula deve anunciar uma nova leva de ministros. Na última sexta-feira (9), ele divulgou cinco nomes que chefiarão pastas consideradas “sensíveis” pelo futuro governo. Foram anunciados Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Rui Costa (Casa Civil), Flávio Dino (Justiça) e José Múcio (Defesa). O presidente eleito afirmou que anunciará uma nova leva de ministros após a diplomação.

Entre os nomes mais cotados para as futuras pastas estão Marco Aurélio Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), Jorge Rodrigo Araújo Messias (Advocacia-Geral da União), Simone Tebet (Cidadania ou Desenvolvimento Social), Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Izolda Cela (Educação) (veja lista).

Fonte: Congresso em Foco