Brasil

A morte da mulher Yanomami e as mentiras de Bolsonaro

Em meio à crise humanitária relacionada ao povo Yanomami, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exonerou, nesta segunda-feira (23/1), 10 coordenadores de saúde indígena do Ministério da Saúde. As demissões foram publicadas no Diário Oficial da União (DOU). Os servidores foram destituídos dos cargos em Roraima – região visitada por Lula no meio da semana –, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso e Amazonas. De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 500 crianças Yanomami morreram por desnutrição. A situação trágica levou o atual governo a decretar estado de Emergência em Saúde de Importância Nacional (Espin) no território.

“Genocídio” e “crime premeditado”

Após visitar o povo indígena em Roraima, no sábado (21), Lula afirmou que o abandono dos Yanomami pela gestão de Jair Bolsonaro (PL) é “um crime premeditado” e um “genocídio”. O presidente também relatou o cenário crítico no qual encontrou os indígenas.

“Adultos com peso de crianças, crianças morrendo por desnutrição, malária, diarreia e outras doenças. Os poucos dados disponíveis apontam que ao menos 570 crianças menores de 5 anos perderam a vida no território Yanomami nos últimos 4 anos, com doenças que poderiam ser evitadas”, disse o petista.

Bolsonaro mentiu

O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mentiu para a Organização das Nações Unidas sobre o atendimento humanitário e de saúde a povos yanomamis. A alegação era de que, mesmo sem ações concretas, sua gestão estaria atuando na região. Na prática, porém, a omissão do ex-capitão e seus aliados levou centenas de indígenas à morte por desnutrição e outras doenças evitáveis. A falsa informação sobre a atuação para conter a crise humanitária que atinge os yanomamis foi prestada também por Bolsonaro à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Em ambos os casos a mentira foi contada por cartas enviadas pela gestão do ex-presidente reveladas pelo jornalista Jamil Chade, do site UOL, nesta segunda-feira 23.

Em todas as mensagens o antigo governo dá garantias para as organizações de que estaria atendendo os yanomamis com programas específicos. Eles dizem, por exemplo, que montaram uma operação de fornecimento de alimentos e alegam ter montado um departamento específico de saúde indígena para atender a população. Há menções a ações de controle de nível de mercúrio nas terras e citações a termos genéricos como ‘medidas para conter covid-19 e malária’. Na prática, porém, os yanomamis seguiram em situação de fome extrema e sendo atingidos por doenças evitáveis. Ao todo, foram registrados 11 mil casos de malária e 570 mortes de crianças. As taxas de mercúrio registradas entre os indígenas da região também é alarmante.

Nos textos encaminhados por Bolsonaro à ONU não há, porém, qualquer indicador de resultados dos programas que ele alega ter desenvolvido na região. As cartas, vale ainda ressaltar, são respostas a denúncias de diferentes relatores da organização sobre a crise humanitária instalada na região. Eram, portanto, cobranças por explicações para uma situação de caos registrada pelas entidades.

A última resposta do ex-capitão, segundo o site, data de março de 2022. Há outras várias cartas anteriores. As datas reforçam o indicativo de que o governo brasileiro tenha se omitido diante da situação. No domingo 22, o site The Intercept Brasil revelou que a gestão do ex-capitão teria ignorado 21 pedidos de ajuda aos povos. As solicitações foram realizadas em sua maioria pela Hutukara Associação Yanomami. Há outros órgãos que apontaram o mesmo cenário de crise humanitária. Importante ressaltar que os ofícios já apontavam a possibilidade de que a situação escalasse para a proporção de genocídio, pelo qual o agora ex-presidente é acusado. O caso foi levado pelo PT ao Ministério Público.

Mais médicos

Em resposta à necessidade de esforços para combater a tragédia no povo Yanomami, o Ministério da Saúde anunciou no domingo (22/1) que, por causa da falta de assistência sanitária para a população do território Yanomami, estuda acelerar um edital do Programa Mais Médicos a fim de recrutar profissionais para atuação nos Distritos Sanitários Indígenas (Dsei).

Segundo a pasta, o recrutamento seria de médicos formados tanto no Brasil quanto no exterior, e a atuação seria de maneira permanente, inclusive no Dsei Yanomami, onde quase 100 crianças morreram no ano passado, segundo o Ministério dos Povos Indígenas.

Os Dsei são unidades de responsabilidade sanitária federal e correspondem a uma ou mais terras indígenas.

Bolsonaro e Damares

O atual mandatário atribuiu ao seu antecessor a culpa pela crise humanitária dos povos Yanomamis. No domingo, Bolsonaro rebateu os ataques que recebeu de Lula.

Em seu canal oficial no Telegram, Bolsonaro classificou as críticas e acusações imputadas a ele como “mais uma farsa da esquerda”, e destacou ações do governo dele no território indígena.

Fonte: Carta Capital