Opinião

Valdiney Gouveia na mira do Consuni

No último dia 22 o Conselho Universitário (Consuni) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) aprovou, por unanimidade, um dossiê com documentos que apontariam irregularidades na gestão do reitor Valdiney Golveia, nomeado em 2020 pelo então presidente Jair Bolsonaro, que desprezou a chapa escolhida pela comunidade acadêmica em nome de um claro projeto de instrumentalização ideológica das Universidades públicas. O “Dossiê da Intervenção da UFPB” deve ser analisado em 16 de maio pelos Conselhos superiores formados ainda pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) e pelo Conselho Superior), o que pode levar à destituição do reitor.

Em tempo: esse atropelo do processo democrático que feriu a autonomia das universidades públicas é fruto de uma política autoritária que, por sua vez, é resultado de uma tradição autoritária que se refletiu nas intervenções promovidas por Bolsonaro nas instituições de ensino superior do país, que se mostrou nos ataques de 8 de janeiro aos Três Poderes, e que se revela todos os dias no massacre continuado de pobres, pretos, pardos, população Lgbtqia+, mulheres e indígenas. Sintoma de uma democracia de baixa intensidade e de uma cultura que valoriza a força e o militarismo.

Voltando a Valdiney Gouveia: o que pesa contra ele? Além de protestos frequentes por parte dos estudantes, avaliações da gestão por parte dos Conselhos são seriam das melhores. De acordo com o que foi apurado pelo Blog, relatórios do Consuni e Conselho Curador com base nos indicadores do Índice Integrado de Governança e Gestão Pública, o IGG, do Tribunal de Contas a União (TCU), mostram uma gestão problemática. O IGG funciona como uma bússola para a adoção de boas práticas, mas também como um termômetro que pode indicar se a governança da instituição segue pelo caminho da eficiência.

Informações exclusivas que chegaram ao Política por Elas dão conta de que a UFPB figura na posição 37ª dentro de um universo de 62 universidades avaliadas no ano. Isoladamente esse número não é bom, mas também não é de todo ruim. Todavia, quando comparado com os indicadores de 2018 a leitura muda: na época o IGG/TCU trazia a UFPB  entre as seis universidades públicas mais bem avaliadas do país, entretanto havia problemas. O TCU detectou falhas em procedimentos licitatórios: “foi constatado que a universidade não publicava todos os dados de licitações e contratos exigidos no Guia de Transparência Ativa para Órgãos e Entidades do Poder Executivo Federal”. A instituição foi notificada pelo TCU e recebeu prazos para adotar uma “cultura por mais eficiência nos processos administrativos internos e por mecanismos para mitigar riscos no processo de compra pública”.

No que diz respeito à gestão Valdiney, fonte ouvida pelo Blog diz que o maior problema é que “não existem ações para reverter” o quadro atual e o relatório do Consuni pode levar à reprovação de contas da gestão. É aquela história: poder, pode; se vai, já são outros quinhentos. Já nesta quarta-feira (5) o Consuni deve se reunir para publicar relatório parcial com as primeiras impressões da gestão Valdiney em 2022.  O resultado pode afetar a leitura do “Dossiê da Intervenção”? Mais uma vez, pode! Dificilmente, no entanto, levará ao afastamento do “reitor interventor”. Uma coisa é certa: Valdiney pode não cair, mas está cada vez mais isolado.