Opinião

Lançar ou não candidatura própria? Os desafios do PT paraibano para 2024

Os petistas Luciano Cartaxo e Cida Ramos voltaram a defender que o PT lance candidatura própria à prefeitura de João Pessoa, em 2024.  Certamente não estão sozinhos e, ao adotarem essa posição e insistirem no protagonismo da legenda cumprem importante papel porque dão representatividade a vozes muitas vezes abafadas nos debates internos. Todavia, entram em conflito com a direção estadual, alinhada “da cabeça aos pés” com a executiva nacional e a frente ampla costurada nas eleições contra Jair Bolsonaro (PL) e que deu vitória a Lula nas urnas.

Lula vem abrindo espaço para aliados fora do campo da esquerda e  os nomeando, inclusive, para cargos federais nos estados. Preso aos acordos firmados em função da campanha, o presidente acabou preterindo companheiros de luta, a exemplo de Jackson Macêdo, presidente do PT paraibano, que esperava uma nomeação para a CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), mas que não foi contemplado. “Nem tudo o que a gente quer, a gente pode”, disse ele.

Apesar da decepção, Jackson segue firme na defesa de um projeto nacional que coloca os interesses nacionais do PT em primeiro lugar, o que pode levar o partido na Paraíba a apoiar uma candidatura não petista “Apoiaremos o nome mais competitivo dentro do projeto do qual fazemos parte”, afirmou em outra oportunidade ao Blog. Esse projeto inclui partidos de direita, que apoiaram Jair Bolsonaro e fizeram campanha contra Lula. É aí que mora o perigo: a ausência do PT das eleições, não sendo preenchida por legenda do campo progressista, pode enfraquecer (mais!) o partido em nível local e contribuir para a ascensão do centrão paraibano.

Ao que parece, é contra isso que Cartaxo e Cida lutam, e por isso encontram resistência. O PT  é o maior partido do Brasil e da América Latina; já teve cinco prefeituras na Paraiba, e conta apenas com uma atualmente. Estando na presidência do país, legítmo seria procurar aumentar sua capiralidade nos municípios brasileiros. No plano do ideal, esse seria o caminho mais lógico. No plano do real, a banda toca diferente. Basta lembrar que nas últimas eleições municipais, quem peitou as executivas estadual e nacional acabou expulso do partido. Caso de Anísio Maia, hoje no PSB. Seria esse o fim de Cartaxo e Cida no partido em caso de insubordinação? Qualquer afirmação nesse sentido é prematura e irresponsável, mas há precedentes que colocam em xeque, inclusive, o caráter democrático do partido.

O PT vai lavar essa “roupa suja” internamente ou na “esfera pública”? Vai deixar isso pro ano que vem ou vai gerenciar essa crise agora, antes que cresça ainda mais? Mesmo sendo um partido nacional, com regras internas, é preciso deixar muito bem amarrado com a militância o que importa para o PT : se permanecer refém de alianças nacionais que se justificaram em dado momento histórico em razão da defesa da democracia e da luta contra a barbárie representada pelo bolsonarismo, ou se considerar as características e demandas locais e deixar que os diretórios municipais coordenem o processo, marcando posição, fortalecendo o petismo e ampliando o debate? O desafio está posto.