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Habitacionais do Complexo Beira Rio são referência na América Latina com projeto inovador e inclusivo

Aproveitamento da iluminação natural e ventilação cruzada, com todos os apartamentos voltados para nascente. Os conjuntos habitacionais do Complexo Beira Rio, exclusivos para os moradores de áreas de risco das oito comunidades do território, foram pensados para levar conforto, segurança e economia aos moradores, permitindo redução de 20% nos custos de aguá e energia.

As habitações de interesse social trazem um modelo sustentável e inovador. Além da poupança de recursos, a proposta inclui redução dos impactos ambientais e preservação do meio ambiente. Os projetos contam ainda com espaços para atividades econômicas com banheiro, áreas de convivência entre os blocos. equipamentos públicos e comunitários, como Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI), Centro de Referência de Assistência Social (Cras), Centro de Referência da Cidadania (CRC), Centro de Referência da Juventude (CRJ), Cozinha Comunitária, auditório, Centro Comunitário e galpão de catadores.

Outra inovação é a arquitetura de gênero ou inclusiva, com moradias pensadas “de acordo com as necessidades e o bem-estar das pessoas que nelas viverão” (BID). E essa é a premissa que orienta o Programa João Pessoa Sustentável, fruto de uma operação de crédito com o Banco Interamericano de Desenvolvimento e que tem orçamento total do Programa de US$ 159,4 milhões, sendo US$ 100 milhões provenientes do BID e o restante como contrapartida da prefeitura. Entre as 92 ações previstas está o acesso à habitação de interesse social, infraestrutura e equipamentos urbanos de qualidade para famílias vulneráveis.

O projeto dos habitacionais da Beira Rio, pelo seu pioneirismo, se tornou referência na América Latina e foi apresentado em evento que reuniu países do Mercosul, no Uruguai, pela equipe que executa o Programa da prefeitura de João Pessoa: “a gente apresentou agora em agosto esse projeto, com essas inovações, no Uruguai, em uma oficina que o BID realizou pra compartilhar essas boas práticas para diversas cidades que o BID tem carteira e intervenções, e o nosso Programa foi escolhido para ser apresentado lá por causa das inovações que estão previstas. É um case de sucesso na América Latina”, afirmou Caio Mário, coordenador urbano da Unidade Executora do João Pessoa Sustentável, que participou do encontro ao lado da coordenadora social, Joelma Medeiros.

Conheça melhor o projeto

Foram elaboradas estratégias arquitetônicas distintas, que levam em conta uma série de fatores como segurança, funcionalidade, sustentabilidade ambiental e financeira, e uso misto.

Segurança – A estratégia de segurança e inclusão nos espaços habitacionais se baseia no conceito de “os olhos da rua” de Jane Jacobs. Os edifícios são projetados de forma que os moradores possam ver e serem vistos nos espaços comuns, com fachadas permeáveis e iluminação adequada. Essa abordagem contribui para criar ambientes naturalmente mais seguros nos conjuntos habitacionais.

 

Disposição dos blocos e áreas comuns e fachadas permeáveis (fonte: Prefeitura de João Pessoa)

Funcionalidade

Diversidade das tipologias: o projeto dos apartamentos oferece três tipos diferentes de plantas, com variação na quantidade de cômodos, incluindo opções de um, dois ou três quartos. Essa diversidade visa atender às diversas necessidades das famílias realocadas, proporcionando configurações de moradia adequadas. Veja:

Modularidade: visando atender às necessidades diárias das famílias, os apartamentos são projetados com plantas modulares e flexíveis, permitindo a adaptação das funções dos cômodos conforme necessário, sem comprometer o caráter residencial da moradia. Uma das vantagens dessa abordagem é a possibilidade de criar espaços de trabalho dentro dos apartamentos, como demonstrado na planta a seguir:

Planta de dois quartos com cômodo neutro (fonte: Prefeitura de João Pessoa)

Uso misto – O projeto inclui edifícios adicionais nos conjuntos habitacionais, com espaços educacionais, de saúde, culturais e comerciais. Essa abordagem visa melhorar a vida do bairro, aumentar a segurança e reduzir a necessidade de deslocamento dos moradores para as tarefas diárias. No Complexo Beira Rio, estão previstos edifícios para creche, cooperativa de catadores, ONG CEIFA, Centro de Referência da Juventude, CRAS, CRC e cozinha comunitária, além de espaços de convívio social.

Imagens do projeto: (1) creche, (2) cooperativa dos catadores, ONG CEIFA, (3) centro de referência da juventude e (4) equipamentos sociais (CRAS, CRC, cozinha comunitária) (fonte: Prefeitura de João Pessoa)

Sustentabilidade – O projeto aborda a sustentabilidade ambiental e econômica, uma preocupação comum na habitação de interesse social no Brasil. Considerando que as famílias reassentadas virão de áreas de risco, é importante garantir que não sejam sobrecarregadas com novos encargos financeiros. Duas abordagens foram desenvolvidas nesse sentido: redução dos custos de energia e água por meio de técnicas de construção verde; e inclusão de espaços comerciais cujos aluguéis ajudarão a cobrir as despesas de manutenção dos condomínios.

Ambiental: o projeto usa o conceito de arquitetura bioclimática, que inclui correta orientação do edifício em relação ao sol e aos ventos predominantes, planejamento e posicionamento das fachadas e ambientes de acordo com o clima de João Pessoa, além de utilização de espaços abertos e semiabertos, e aberturas de fachadas para promover a ventilação cruzada no interior do edifício. Além disso, as fachadas próximas aos corredores foram projetadas com o uso de cobogó, um material local que permite a ventilação e iluminação natural. As condições de sustentabilidade ambiental e redução de recursos foram avaliadas pelo sistema EDGE, que certifica edifícios que reduzem o consumo de energia, água e energia incorporada nos materiais de construção em 20% ou mais. Verificou-se que o projeto obteve uma economia significativa: 66,9% de energia, 25,8% de água e 38,7% de energia incorporada nos materiais de construção em comparação com uma construção convencional.

Financeira: o projeto contempla áreas comerciais nos espaços térreos dos edifícios, além de um edifício comercial exclusivo às margens da Avenida Beira Rio, que serão disponibilizados para locação. Essa iniciativa tem como objetivo utilizar a receita do aluguel para reduzir os custos condominiais, ao mesmo tempo em que oferece serviços mais próximos aos moradores. Além disso, essa oportunidade permite que os próprios residentes trabalhem em locais próximos às suas casas.